Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

(To best view this blog use the Google Chrome browser)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Vídeo 14 - Cuíca exige anos de dedicação dos ritmistas no carnaval

Este vídeo consiste numa reportagem televisionada ontem, 19 de fevereiro de 2014, onde Carlinhos da Cuíca é mais uma vez reverenciado por sua trajetória ímpar como exímio cuiqueiro e por seu notável trabalho de ensino do instrumento. Além dele, também são entrevistados Nilton Lopes, igualmente responsável pela formação de inúmeros cuiqueiros e cuiqueiras no Rio de Janeiro; Oscar Bolão, autor do método Batuque é um Privilégio, com vários exercícios para cuíca escritos em partitura; e Mestre Capoeira, defensor da ideia de que o naipe de cuíca deve sempre desfilar nas primeiras fileiras da bateria, como ele mesmo faz na escola Império da Tijuca. Várias questões interessantes são abordadas ao longo de toda a reportagem, que termina com a mensagem de que todas as pessoas podem aprender a tocar cuíca. Basta querer e se entregar de coração, por mais que seja um instrumento que realmente exige dedicação.



Nosso agradecimento ao amigo Carlinhos Alvinegro pela indicação do vídeo.
.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Cuiqueiros 6 - Quirino Lopes

Todo ano, nas semanas que antecedem o carnaval, a imprensa costuma publicar matérias relacionadas às escolas de samba. Na maioria das vezes, são entrevistas com algum profissional de destaque ou celebridade, como os carnavalescos e as rainhas de bateria. De vez em quando, as reportagens abrem uma exceção e dão espaço para algum baluarte. Em 2012, Quirino Lopes, ex-diretor do naipe de cuíca da Mocidade Independente de Padre Miguel, concedeu uma entrevista ao jornal Extra, reproduzida abaixo. Um registro breve de algumas poucas palavras que revelam, nas entrelinhas, a intensidade de um grande amor á cuíca e ao samba.

Mestre Quirino e a cuíca cravejada de moedas
colecionadas dos países onde já se apresentou.
Foto: Fernanda Dias

Mestre Quirino, o último grande cuiqueiro, diz que falta amor ao carnaval e mostra mocidade, aos 88 anos.

Foi em uma época em que o carnaval e candomblé ainda se confundiam, no longínquo 1938, que o garoto Quirino viveu seu primeiro carnaval. Longe das cuícas, que marcariam a sua carreira de músico, ele entrou no mundo do samba com um isqueiro na mão, aquecendo o couro dos surdos e tamborins com tochas de jornal, que serviam para afinar os instrumentos. Agora, o mestre se prepara para o 74º carnaval. Neste não vai tocar cuíca. Mas garante que vai desfilar na Velha guarda da Mocidade Independente com uma grande certeza.

— Meu filho, Quirininho, me disse outro dia: “Pai, quando o senhor for embora, a sua arte não vai morrer”. Eu acredito nisso — diz, entre lágrimas.

A idade permite também outras certezas, não tão boas:

— O carnaval já não é mais o mesmo. O que eu vejo é que falta amor. As pessoas saem em três, quatro escolas e não saem em nenhuma.

Até a Europa aplaudiu

Quem olha para o instrumento de estimação, com moedas de vários países, pode achar que levar a vida na cuíca foi fácil.

— Eu tomava uma cachacinha e o troco ia pra cuíca. Tem a Europa toda aqui. Criei meus oito filhos com ela — brinca o mestre, que aprendeu a tocar o instrumento nos terreiros de candomblé.

Hoje, a voz arrastada não lembra mais a do moleque que trabalhava de acendedor na Acadêmicos do Santo Antônio. A religião também já não é tão presente:

— Não pude homenagear São Sebastião, meu Oxóssi. Não tive dinheiro — lamenta.
.