Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.
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Conheci o Blog do Cuica Play a um tempinho e procuro sempre acompanhar as postagens mais recentes. No dia 31 de março o Luciano - responsável pelo blog - publicou uma postagem sobre o Theo da Cuica e isso me instigou aprocurar mais postagens sobre outros cuiqueiros no arquivo do blog. É que o Blog do Cuica Play, apesar do nome, não fala apenas sobre cuica, mas sim sobre percussão de uma maneira geral. As postagens são ricas em fotos, vídeos, músicas e textos, sempreenaltecendo valores da música brasileira e internacional, que dificilmente receberiam a atenção na grande mídia como neste trabalho realizado pelo Luciano. Além da ótima postagem sobre o Theo, encontrei também uma sobre o sr. Zeca da Cuica, outra sobre um jovem sambista de São Paulo chamado Tito Amorim e uma sobre o grande Ovídio Brito. Bom, mas pra começar, acho legal que todos vejam a postagem sobre o próprio Luciano Cuica Play e conheçam um pouco mais sobre este camarada que faz esse belo trabalho em nome da percussão e de todos os percussionistas. Seguem as postagens:
Dêem uma olhada também em tudo do blog porque tem muita coisa legal! Por exemplo, a postagem sobre o maestro Luciano Perrone, já citado aqui algumas vezes. Tem outra muito bacana também sobre o Don Chacal, que para minha surpresa, aparece tocando cuica numa foto. Sabia que ele era um grande percussionista, mas que também tocava cuica, não. Infelizmente o Don Chacal faleceu a pouco tempo e merece muitas homenagens como essa do Cuica Play.
Por indicação do amigo Sandor Buys, este post traz imagens preciosas da cantora Aurora Miranda e o Regional do Benedito Lacerda interpretando mais uma música relacionada à cuica:Molha o Pano, da autoria de Getúlio Marinho e Cândido Vasconcelos. Encontrei um texto muito bacana sobre Getúlio Marinho, que foi um personagem importante na história do samba, lá no início de tudo, mas é pouco citado por aí. Vale a pena ler! Quanto ao Cândido Vasconcelos, procurei e não encontrei nada. Mas achei uma descrição da cena com a Aurora Miranda que diz o seguinte:
Aurora, a irmã também famosa de Carmen Miranda, aos 20 anos de idade teve dois números cantados, um com Carmen, no filme brasileiro "Alô Alô Carnaval" produzido pela dupla Waldow/Cinédia em 1935, lançado em 1936. Aqui, a graciosa apresentação de seu número nesta produção com o samba "Molha o Pano", de Getúlio Marinho e Cândido Vasconcelos com acompanhamento do Grupo Regional de Benedito Lacerda. Um raro documento histórico da época em que o samba se popularizava. Bom divertimento.
Molha o Pano
(Getúlio Marinho e Cândido Vasconcelos)
Molha o pano Pega na cuica
Puxa certo e com cadência
Veja o samba como fica
Fui num pagode
A família deu o não
Aqui não se quer cuica
Porque não é barracão
Fiquei sentida
Coragem! Gritou meu mano
Quem é rico paga orquestra
E quem é pobre molha o pano
Refrão
É um abuso
E por demais autoridade
Fazer pouco em quem é pobre
Só por ter felicidade
Não fiz barulho
Porque me julgo decente
Tratei de molhar o pano
E gritei “vamos em frente!”
É interessante observar que a música publicada na última postagem, Como se faz uma cuica, traz um verso onde se diz que "o piano é de nobre e o instrumento de pobre é a cuica", e agora vemos ser dito que "quem é rico paga orquestra e quem é pobre molha o pano". Antes que alguém se sinta ofendido, acredito que esses versos não tenham sido criados com a intenção de inferiorizar o nosso estimado instrumento musical e nem a nós, seus instrumentistas. Essa polaridade entre o que é de rico e o que é de pobre, onde a cuica aparece ligada à pobreza, evidentemente representa uma série questões econômicas e sociais, o que não cabe agora aprofundar. Mas vale refletir sobre o quanto os cuiqueiros pioneiros sofreram discriminação para firmar a cuica no cenário artístico nacional, a ponto de poder desfrutar a situação de maior aceitação em que a cuica se encontra hoje. Embora ainda exista discriminação.
Hoje é o "Dia Nacional da Cuíca", uma data que apesar de ser extra-oficial, é reconhecida e celebrada pelos cuiqueiros e cuiqueiras de todo o Brasil. Inclusive, hoje, no Rio de Janeiro, haverá uma festa na quadra da escola de samba União de Jacarepaguá, à partir das 13:00 horas.
E para não deixar essa data tão especial passar em branco por aqui, selecionei um samba de Haroldo Lobo e Wilson Baptista intitulado Como se faz uma cuíca, que é um verdadeiro documento histórico do nosso instrumento. Lançada em 1944 pelo conjunto vocal Anjos do Inferno, essa é uma das poucas composições cuja temática é especificamente dedicada à cuíca. O título é instigante por si só, mas ao longo da letra é que a preciosidade deste belo samba fica de fato evidente.
Hoje é 1º de abril, dia da mentira, e para celebrar essa data tão especial nada melhor do que falar sobre a famosa “água de cuíca”.
Reza a lenda que antigamente, quando um cuiqueiro tinha a oportunidade de viajar para outro país, sabendo que provavelmente algum gringo desejaria comprar sua cuíca, ele levava na bagagem uma ou mais cuícas extras, justamente para serem vendidas. A questão é que durante a negociação da venda o cuiqueiro utilizava uma estratégia bastante arriscada, mas que funcionava direitinho. Conheci essa história mais ou menos assim...
O gringo, impressionado com a performance do cuiqueiro, se dirigia a ele mostrando interesse em comprar aquele instrumento tão interessante, perguntando por quanto o cuiqueiro lhe venderia. O cuiqueiro dizia então um valor bem baixo, como uns 20 dólares ou algo assim. O gringo ficava entusiasmado em adquirir a cuíca pagando tão pouco e comprava imediatamente. Mas em seguida, questionava: ok, mas como faz pra tocar? Nessa hora o cuiqueiro tirava a carta da manga, dizendo o seguinte: bom, pra tocar cuíca você precisa do pano e da água. Essa água serve para molhar o pano e sem ela é impossível tocar! O gringo ficava ainda mais fascinado e perguntava ao cuiqueiro onde conseguir o pano e a água. Com toda sua malandragem, o cuiqueiro emendava: olha my friend, essa água é a “água de cuica”... uma água especial e essa aqui é das boas! Se quiser, te vendo o pano e uma garrafinha da água por apenas mais 500 dólares. Surpreso e não muito contente com essa novidade, mas sem encontrar outra saída por já ter comprado o instrumento, o gringo se via obrigado a pagar esse valor tão mais alto e o cuiqueiro voltava pro Brasil feliz da vida.