Estive no lançamento do livro
Samba, Cuíca e São Carlos há pouco mais de um mês e pude conversar com o autor,
Carlos Nogueira, sobre uma questão que me deixou curioso: a palavra
cuíca no título da obra. Apesar de tal fato sugerir que o texto contenha algo sobre o nosso estimado instrumento musical, na verdade há pouco nesse sentido. O livro é um interessante documento sobre o
Morro de São Carlos e sua importância na história do samba e do carnaval. Segundo o autor, a
cuíca entra no título porque
"simboliza a alma do samba e sua sonoridade mimetiza a dor daqueles que ajudaram e continuam a construir o Brasil".
Em Samba, cuíca e São Carlos, Carlos Nogueira reconstrói a memória social do Morro de São Carlos, localizado no Estácio, bairro da cidade do Rio de Janeiro onde foi fundada a primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1928, e lugar de resistência e afirmação da identidade afro-descendente.
Nogueira começa a frequentar o Morro de São Carlos em 1998, quando passa a conviver e colher depoimentos de seus moradores, remanescentes da escola de samba Unidos de São Carlos. O autor conversou com compositores, passistas, personagens lendários do São Carlos, como Marly do Estácio, Zacarias, Sidney Conceição, Jorge Cabo, Oliviel, Mago, Wanderley Caramba, Zeca da Cuíca e muitos outros, recompondo assim a memória de uma das favelas mais antigas da cidade e do bairro no qual se localiza.
Nesse percurso, Nogueira também aborda a diversidade étnico-cultural da cidade do Rio de Janeiro nos idos da década de 1920, as políticas de higienização do governo de então e o surgimento do samba urbano carioca.
A importância da Praça Onze, os carnavais, o Morro de São Carlos, os enredos da Unidos de São Carlos e da Estácio de Sá são objetos deste livro, em que seu autor nos traça um precioso roteiro do processo de surgimento de um dos nossos patrimônios culturais mais valiosos – o samba.
Carlos Nogueira nasceu no Rio de Janeiro. É graduado em Letras pela UFRJ e Mestre em "Memória Social e Documento" pela UNIRIO. Autor do livro Olhar de Ifá e dos vídeos Deixa Falar: 100 anos de Ismael e Mulheres Guerreiras. Atua profissionalmente na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na fronteira das áreas de comunicação, cultura, memória e documentação.
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