Peço licença ao amigo
Zé Carlos da Cuica para reproduzir, como introdução a esta nova postagem, parte de um antigo
comentário seu que traz observações bastante pertinentes ao tema que veremos agora:
metodologia de estudo da cuica.
Segundo ele, a cuica "é o instrumento de percussão (fricção na verdade) mais complicado de ser tocado! Não existe uma fórmula, quem quiser aprender tem que "ralar" muito! Todos os outros instrumentos tem uma didática clara e bem lógica. A cuica não. (...) você só adquire a habilidade necessária com a prática e entrega. Não existe nenhum cuiqueiro que toque igual ao colega. Temos base, inspirações (nos grandes músicos), mas cada um tem que trilhar o seu caminho sozinho".
Concordo com você, Zé Carlos. De fato, parece que ainda não temos um método de ensino que organize de maneira objetiva e aprofundada a variedade de questões referentes ao estudo da cuica em termos da execução do instrumento. Mas já existem alguns trabalhos que tratam desse assunto de maneira breve, e que já contribuem no sentido de formalizar, formatar, ou seja, transcrever o toque da cuica para a linguagem da teoria musical, servindo, assim, como uma alternativa sistematizada de estudo. Um excelente exemplo disso é o método
Batuque é um Privilégio, da autoria de
Oscar Bolão, certamente uma das maiores autoridades quando o assunto é
percussão.
Através de fotos, textos e exercícios, Bolão mostra os fundamentos para execução de diversos instrumentos tradicionalmente utilizados no samba, como o pandeiro, o surdo, tamborim, agogô, reco-reco e, claro, a cuica, para a qual são propostos um total de quinze exercícios escritos em pauta de três linhas, representando as alturas
grave,
médio e
agudo. Eles exigem certo grau de conhecimento sobre leitura musical, mas três deles foram gravados no CD que acompanha o livro e com o áudio fica mais fácil praticá-los. Cabe fazer aqui uma breve referência (e reverência) ao músico
Fabiano Salek, cuiqueiro que realizou essas gravações. Bons estudos!
A cuíca é feita de um cilindro de metal ou madeira com uma pele de couro num dos lados. No centro desta é presa uma vareta fina de bambu, que, friccionada com um pano úmido, produz seu som característico. Com o dedo médio da mão, fazemos pressão sobre a membrana, extraindo sons de alturas diferentes. Conforme a região do país, a cuíca recebe outros nomes, como puíta ou roncador.
As linhas superiores da pauta representam a pressão exercida sobre a pele – para este procedimento, usaremos a designação de MEMBRANA; a pausa determina que o dedo não pressiona o couro, o que gera um som grave; as notas escritas na segunda linha indicam que o dedo deve exercer uma leve pressão sobre a membrana, produzindo um som médio; e a linha superior indica uma pressão ainda maior, extraindo-se, assim, um som agudo. A linha inferior é destinada à mão que fricciona a vareta e que designaremos MÃO. Sob as notas nela escritas, encontraremos símbolos que representam a articulação dos movimentos. O movimento de dentro para fora é feito à partir do corpo do executante e o movimento contrário é feito em direção ao seu corpo. Não havendo indicação, repetem-se os movimentos anteriores.
- Exercício 1 [CD - Faixa 13]