Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.
(To best view this blog use theGoogle Chromebrowser)
O programa Nó na Garganta, da Escola de Choro de São Paulo, lançou recentemente dois excelentes episódios dedicados à cuíca.
O primeiro compõe a série Telecotecos Africanos e Brasileiros, que investiga traços de DNA africano na música brasileira tomando o famoso "telecoteco" do samba e do choro como filamento genético dessa relação.
Partindo da audição de um belo solo de cuíca executado pelo magistral Alfredo Castro e de uma incrível gravação de puíta registrada em Angola pelo pesquisador Gerhard Kubik, o programa segue um trajeto de reflexões instigantes pautadas em valiosos documentos sonoros.
Já o segundo programa integra a série Timbres e seus Gênios e se concentra nas modificações sonoras que a cuíca sofreu ao longo do tempo e que a afastaram da semelhança com o timbre de outros tambores de fricção, como a puíta angolana, característica da fase inicial de sua história.
Também com ilustração de um rico repertório e tendo por base importantes fontes históricas, o programa nos conduz à triste constatação de que a evolução sonora da cuíca, apesar da relevância musical e estética, teve grande motivação na desigualdade social, preconceito e discriminação racial que ainda hoje nos violenta como herança dos quase quatro séculos de escravidão no Brasil.
Constatação triste, mas necessária de ser feita e infinitamente refeita. Pois, se um traço tão marcante da cuíca, sua sonoridade que tanto nos encanta, resulta de algo tão terrível, não podemos considerá-la apenas como um instrumento musical. A cuíca se revela também como instrumento de denúncia e combate ao racismo e à injustiça.
É uma grande satisfação que esse humilde espaço cuiquístico tenha contribuído para o programa Nó na Garganta produzir um conteúdo tão importante e oportuno. Fica aqui também a nossa saudação aos amigos chorões, em especial ao professor Enrique Menezes, a quem agradecemos pela aula e pela oportunidade de redimensionar a nossa responsabilidade de cultivar a chorona.