A pele utilizada na cuica
é de origem animal, preferencialmente
de cabrito, e é num local chamado curtume onde o couro do animal é tratado para
que fique em condições de ser utilizado em diversas finalidades, inclusive para tocar cuica. Primeiro, o cabrito é
abatido, a pele é extraída e os pelos são raspados. Em seguida, há o processo
de curtimento com alguns produtos químicos para evitar que a pele apodreça. Feito
isso, está pronta para empachar e usar no instrumento.
|
Matéria prima |
A qualidade da pele influencia muito no som da cuica. Pele grossa, pele fina, pele com ruga, pele
lisa, enfim, são nuances que cada cuiqueiro avalia para encontrar o padrão que
mais lhe agrada. Já ouvi dizer que até a idade do cabrito influencia na
sonoridade da pele, sendo, a dos mais velhos, melhor do que a dos cabritos abatidos
ainda quando jovens.
O vídeo da última postagem começa com o rapaz pressionando o
centro da pele com a ponta de uma baqueta, marcando o ponto exato onde ele depois
faria a amarração do gambito. Porém, é necessário molhar a pele antes desse
procedimento. A pele é muito dura em seu estado natural e para empachá-la é
imprescindível que esteja amolecida. Para isso, costuma-se deixar de
molho por alguns minutos, dentro de um balde cheio d’água ou algum recipiente parecido.
Quando encharcada, a pele fica muito parecida com uma massa de pizza.
Essa analogia é um pouco estranha, mas no vídeo da postagem anterior é possível
ver que é assim mesmo que ela fica. Depois de molhada e bem amolecida, deve-se
amarrar o gambito no centro da pele e, finalmente, empachá-la no arquilho, que
é um arco geralmente de madeira onde fixamos a beirada da pele, como vimos ser feito no
vídeo citado.
O próximo passo é esperar
que a pele fique seca. Dependendo
do clima isso pode levar um ou dois dias. Mas atenção, a pele deve
secar na sombra, nunca ao sol. Em seguida, com a pele totalmente seca, é só encaixar na
cuica, afinar e está pronta para uso. É
importante evitar o contato novamente com água depois que a pele estiver instalada
na cuica. Um problema muito comum é esbarrar o pano na pele enquanto se
está tocando. Sem que se perceba, aos poucos o pano umedecido vai molhando a
região envolta do gambito e a pele acaba se rasgando. Para evitar que isso
aconteça é recomendável colocar um
pedaço de plástico ou de fita adesiva na pele, por dentro da cuica, protegendo
toda a circunferência próxima ao gambito.
Nos desfiles das escolas de samba ou nos ensaios que as
agremiações costumam fazer a céu aberto antes do carnaval, os
cuiqueiros cobrem a pele da cuica quando chove com uma touca de banho, daquelas de plástico que usamos para não molhar o cabelo. Existem experiências bem sucedidas com pele de náilon para cuica, mas há quem
diga que o resultado sonoro não é tão bom quanto o da pele de couro. No
entanto, o náilon tem a vantagem de não sofrer nenhuma alteração física em
contato com água, sendo, portanto, uma boa alternativa para essas situações em que esteja chovendo.
Mas a pele de couro animal é mesmo a de uso mais comum entre a maioria dos
cuiqueiros. É bastante resistente, embora necessite de alguns cuidados e manutenção,
podendo durar bastante tempo sem rasgar. Sobre essa questão da durabilidade da
pele, outra orientação é para nunca guardar a
cuica com a pele esticada, quer dizer, deve-se afrouxar a pele toda vez depois de
tocar.
Encontrar pele de cuica pra comprar não é tão difícil,
principalmente pra quem tem uma cuica da Gope ou da Contemporânea, por exemplo.
Como essas marcas têm produção em escala industrial, é fácil encontrar a pele
já pronta em lojas de instrumentos musicais. Em São Paulo, situadas à rua
General Osório, ficam as lojas dessas duas marcas mencionadas, uma bem próxima da outra. E do outro lado dessa mesma rua fica a loja da Redenção, também de artigos
musicais.
No Rio de Janeiro, há várias lojas na rua
da Carioca e também a fábrica
da famosa marca Art Celsior,
no bairro de Cordovil. E para quem mora em outras regiões fora do Rio de
Janeiro ou de São Paulo, acredito que dê pra comprar pelos sites dessas lojas, ou
procurar na sua cidade alguma loja de instrumentos musicais que venda ou possa
encomendar pele de cuica com algum fabricante. Essas dicas servem tanto pra quem
quer comprar a pele já empachada, quanto para quem procura o couro, o gambito,
o arquilho, enfim, cada item separadamente para empachar a própria pele. Quanto
à linha
encerada, tipo de corda ideal para amarrar o gambito na pele, pode ser facilmente encontrada em armarinhos ou lojas de produtos para artesanato.
Mas, independentemente das especificações que vão do gosto pessoal de
cada cuiqueiro, assim como a variação de marcas disponíveis nas lojas de música,
o fato é que a pele é um item da cuica
sobre o qual devemos conhecer muito bem. Fazer testes com diferentes tipos de pele, oriundas de curtumes diferentes, preparadas para diferentes fins, por exemplo: para desfilar no carnaval é conveniente utilizar uma pele
mais grossa, que suporte uma afinação mais aguda. Já para gravação em estúdio,
uma pele fina pode atender bem às expectativas. E por aí vai, de acordo com a
curiosidade e disposição de cada cuiqueiro em querer dominar esse instrumento
tão melindroso chamado cuica.
.