Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Exposição - Zeca, 60 anos de cuíca

A exposição Zeca, 60 anos de cuíca é uma bela e merecida homenagem a um nossos grandes mestres, Zeca da Cuíca. A organização do evento é do núcleo de cultura da Comlurb, instituição para a qual o seu Zeca dedicou muitos anos de serviço, até a sua aposentadoria.


ZECA: 60 ANOS DE CUICA - A mostra reúne imagens fotográficas da carreira e da vida de José de Oliveira, o Zeca da Cuíca, funcionário da Comlurb que acompanhou grandes nomes da música popular brasileira. O espaço contará também com a transmissão de imagens e entrevistas, um estande interativo para o público tocar cuíca, além da exposição de troféus e medalhas do instrumentista. Na noite de abertura, Zeca se apresentará numa animada roda de samba. Aos 75 anos, ele é ainda um músico atuante, participa de shows, gravações e é integrante da Velha Guarda da Escola de Samba Estácio de Sá, embora tenha também como escola do coração a Acadêmicos do Salgueiro, pela qual ganhou o Estandarte de Ouro. Fonte: Jornal do Brasil - 31/01/2011

Serviço: Galpão das Artes Urbanas Helio G. Pellegrino, Rua Padre Leonel Franca s/n, Gávea - Rio de Janeiro (2249-2286). 2ª a 6ª, das 10h às 17h. Grátis. A partir de 4 de fevereiro, até 31 de março de 2011.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Música 5 - Triste Cuíca

Triste Cuíca é uma linda composição de Noel Rosa em parceria com Hervé Cordovil, originalmente gravada por Aracy de Almeida, em 1935, com o acompanhamento do Regional de Benedito Lacerda.


O próprio título desta canção fala de uma das características mais marcantes da cuíca, sua capacidade de nos remeter ao sentimento de tristeza, de lamento, através da sua sonoridade.

Mas há outra questão interessante neste samba, especificamente no verso "parecia um boi mugindo...". Trata-se de uma clara referência ao padrão de afinação que as cuícas possuíam no passado, quando soavam numa faixa de frequências bem mais grave do que o padrão de afinação atual. É uma pena que a gravação original não tenha uma cuíca em sua instrumentação para provar a pertinência da comparação entre a sonoridade da chorona com o som de um boi mugindo. Porém, em 1966, Aracy de Almeida regravou Triste Cuíca e, desta vez, contando com a impecável cuíca de Mestre Marçal, já com o instrumento em sua sonoridade moderna.



Triste Cuíca
(Hervé Cordovil e Noel Rosa)

Parecia um boi mugindo
Aquela triste cuica
Tocada pelo Laurindo
O gostoso da Zizica

Ele não deu à Zizica
A menor satisfação
E foi guardar a cuica
Na casa da Conceição

Diferente o samba fica
Sem ter a triste cuica
Que gemia feito um boi

A Zizica está sorrindo
Esconderam o Laurindo
Mas não se sabe onde foi

A Zizica está sorrindo
Esconderam o Laurindo
Mas não se sabe onde foi
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Cuiqueiros 1 - Boca de Ouro

Nas comunidades e grupos das redes sociais pautadas na cuíca é comum encontrar comentários sobre cuiqueiros como o Mestre MarçalOvídio BritoZeca da Cuíca, Fritz Escovão, Osvaldinho, Carlinhos, enfim, sobre algum cuiqueiro famoso. Acontece que existem outros nomes além destes que, apesar de também serem muito importantes, não são tão comentados. E nas conversas que tive com cuiqueiros experientes, como o Zeca e o Osvaldinho, e também com sambistas da antiga como o Monarco, eles sempre apontam um nome como o principal cuiqueiro do passado: Boca de Ouro - um nordestino radicado no Rio de Janeiro, mas que também viveu em São Paulo por alguns anos, e fez parte da elite musical brasileira. Não consegui descobrir o seu nome de batismo e nem a data de nascimento, mas provavelmente foi entre as décadas de 1910 e 1920.

Boca de Ouro (em 1959)

Parece que ele foi mesmo o grande cuiqueiro de seu tempo, tendo gravado em discos de nomes como Carmen Miranda, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, entre outros, acompanhado esses artistas também em shows por toda parte. Mas um dos trabalhos mais importantes que ele participou certamente foi o disco Batucada Fantástica – Os Ritmistas Brasileiros, gravado em 1964 sob direção do baterista Luciano Perrone. Lançado pelo selo Musidisc, esse disco recebeu vários prêmios e se tornou mundialmente conhecido. Logo na primeira faixa, intitulada "Samba Quente", disponível no player abaixo, podemos ter uma noção de que o Boca de Ouro foi mesmo um cuiqueiro fenomenal.


Encontrei no site do Instituto Moreira Sales outras duas músicas cujas fichas técnicas o referenciam como "Boca Rei da Cuíca", tamanha sua importância para o instrumento. Ambas as músicas foram gravadas em 1948 pelo grupo Vocalistas Tropicais. A qualidade do áudio não é muito boa, mas prestando bem atenção dá para ouvir a cuíca no acompanhamento.   




Como é que vai ser? (Marino Pinto e Mário Rossi)


Além dos inúmeros registros fonográficos, Boca também atuou em alguns filmes, como neste trecho da comédia musical "Quem roubou meu samba?", de 1959, acessível AQUI em sua versão completa.


Sobre a sua morte, parece que ele foi assassinado no Rio de Janeiro em meados da década de 1970, deixando como legado um estilo cuiquístico excepcional. Se hoje podemos tocar e apreciar a cuíca em baterias, rodas de samba, shows e discos, devemos isto a figuras como Boca de Ouro.
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vídeo 5 - Índio da Cuíca

Vejam só que feliz coincidência! Hoje fui à loja da Art Celsior e na volta para casa, enquanto esperava o trem chegar na estação de Cordovil, outro trem parou no sentido oposto e vi descer do vagão um sujeito que suspeitei ser o Índio da Cuíca. Num impulso, gritei seu nome. Ele se virou, olhou desconfiado, mas veio falar comigo. Eu me apresentei, disse que era seu fã e que também sou cuiqueiro. Conversamos ali por uns quinze minutos até o meu trem chegar. Fiquei muito feliz por tê-lo conhecido! Que camarada gente boa! E toca uma cuíca muito esperta! O Índio é um dos poucos cuiqueiros que têm a habilidade de solar melodias na cuíca, como se vê nesta apresentação, em 1997, onde sola trechos do choro Brasileirinho, do samba popularmente conhecido como Pega no Ganzê, e da marcha Cidade Maravilhosa.


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