Cuiqueiro já foi uma raça rítmica em extinção no início deste século. A rapaziada que se chegava às escolas de samba só queria saber de tocar tamborim. Mais fácil, mais leve, mais prático. Os mais velhos estavam partindo ou, como o Dr. da Cuíca e o Portela, se aposentando. Foi necessário que algumas agremiações fizessem “escolinhas” para a garotada aprender a tocar a danada da cuíca.
Agonizou mas não morreu. Cuiqueiros são sobreviventes proativos que sustentam a “cama” dessas verdadeiras orquestras percussivas, as superbaterias. Os cuiqueiros, então, tornaram-se os maiores tiradores de onda do Carnaval carioca. Desfilam sorrindo, fazendo caretas e são quase todos coroas como eu. Não é à toa que as rainhas adoram provocá-los, fazendo-os ajoelhar-se diante de seus requebros.
Também pudera: a cuíca é, provavelmente, o único instrumento do mundo tocado às escondidas. Ninguém vê, mas todos ouvem e sentem. Tocá-la até que é fácil, mas ao mesmo tempo, é muito complexo. Requer tempo, atenção, agilidade, equilíbrio, muita manha e precisão.
Aula rápida: os dedos de uma das mãos deslizam segurando um gorgurão molhado por uma vareta de bambu que fica escondida dentro do bojo do instrumento. A outra mão fica por fora, apertando o couro, com toques firmes, rápidos e suaves. A mão do gorgurão molhado dá o impulso “Y” combinado com uma pressão “X”. Cria-se sons graves e agudos. O aperto exterior com o dedo cata-piolho comanda as variações: o tal tu-tum-tu-tu. Daí começa o leva-e-trás, o fuqui-fuqui.
O corpo da cuíca visto por detrás lembra a turbina de um caça supersônico de guerra. Mas cuíca é instrumento da paz. Seus princípios aerodinâmicos são complexos. A boca larga recebe um couro dobrado num arco de madeira (usa-se também de metal). Cada cuíca recebe preparações especiais. Couros, por exemplo, tomam banho de sol para pegar melhor afinação.
Algumas baterias de escolas de samba as valorizam, como a São Clemente que, ano passado, desfilou com 34 cuícas em três fileiras. A cuicaria da escola de Botafogo chega a ter um maestro — o polêmico Stalone — que criou na prática uma espécie de partitura de acompanhamento do samba da escola. Cuíca é instrumento manhoso: apertada e afrouxada a cada tocada, tem seu ponto G. Atualmente, todas as escolas possuem seus naipes de cuícas. Até versos de amor a cuíca já recebeu. Foi no poema “Minha Cuíca”, de meu livro “Cadê?”, dedicado a Roberto Salvatore.
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Posso dizer com orgulho que sou amigo do Luis Turiba aqui em Brasília. Já tocamos cuíca juntos, ele é um apaixonado pelas letras e pela cuíca, já participei de grandes festas na casa dele, tenho muito respeito e consideração por ele. Mudou-se para o Rio e fiquei sem ver meu amigo, mas creio que dentro de pouco tempo, provavelmente em maio ou junho poderei ir ao Rio com bastante tempo e calma, e aí quero encontrá-lo para lhe abraçar, trocarmos idéias, tomarmos ótimos chopinhos, e, principalmente, tocar muuuuita cuíca! Um baita abraço, grande Luis Turiba!!! P.S: ele me conhece como Jambeiro. Se vir Carbureba não saberá que sou eu, esse é um apelido dos meus tempos de rapazinho aqui em Brasília.
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