Uma das coisas que conversamos sobre a participação dele nesse trabalho foi um fato curioso que chamou minha atenção ao ler a ficha técnica do disco. A propósito, esse disco, Correio da estação do Brás, do Tom Zé, é absolutamente sensacional!!! Na ficha técnica consta a referência de que a cuíca foi gravada por Oswaldo José Sbarro, sendo que o nome de batismo do Osvaldinho é apenas Osvaldo Barro. Ele me explicou que esse outro Oswaldo é um violinista, já bem mais velho do que ele naquela época, dizendo também que essa semelhança dos nomes causava de fato muita confusão:
– Como ele era velhinho, ele se equivocava e assinava o recibo de cachê que era pra mim. Mas as vezes acontecia o contrário também. Eu tinha que ir lá em Pinheiros, na casa dele, acertar o cachê que pagavam errado pra gente.
Perguntei se ele se lembrava da ocasião em que fez essa gravação e de como conseguiu realizar esse maravilhoso registro:
– Eu não lembro... foi a época que eu mais gravei na minha carreira. Era dia e noite, quatro seções de gravação por dia. Mas era tudo de ouvido. Cuicas afinadas de acordo com a tonalidade, fazendo naipe. Uma cuica de oito vai ter um som penetrante, firme, mais vibrante. E as de nove e meio e dez polegadas têm mais variedade de notas.
Osvaldinho também comentou sobre o seu estilo, expondo sua concepção em relação às diferentes possibilidades de aplicação da cuica em um arranjo musical:
– Virou uma pandemia o uso da cuica com apenas duas notas! É tocar pra frente e pra traz, grave e agudo, e ponto final. Tem que explorar o som do instrumento! Já fui criticado por tocar a cuica parecendo um trombone, mas é que em toda gravação eu procuro adequar na música, eu toco para vestir a música, aplicando com economia.
E o mestre falou também sobre a época em que foi membro do grupo Demônios da Garôa, destacando a participação do grupo na 1ª Bienal do Samba, em 1968, quando defenderam a interessantíssima composição "Mulher, patrão e cachaça", de Adoniran Barbosa.