Velho conhecido da noite carioca e de shows de música brasileira no exterior, Índio mostra a cara, a técnica e as composições em ‘Malandro 5 estrelas’
O multi-instrumentista Índio da Cuíca Foto: Alfredo Alves / Divulgação |
Mais do que um veículo para a sua impressionante técnica na cuíca — literalmente, Índio faz o instrumento cantar —, o álbum editado pelo QTV, selo carioca de música experimental, traz um punhado das singulares composições do músico, entre sambas (“A cuíca chora”, “Cuíca malandra/cuíca encantada”, “Sonho realizado”), cânticos afro (“Medley de Ogum”), calango (“Stribinaite camufraite oraite”), bolero (“Shirley”) e até funk (“Baile do bambu”). Enfim, chegou a vez de a sua visão musical, de seu canto e de seus instrumentos (além da percussão, ele também toca violão) serem registrados em um disco com seu nome estampado na capa.
— Índio é o nome que eu tenho mais afinidade — esclarece o artista (que nasceu no Morro dos Afonsos, na Tijuca) sobre a alcunha que ganhou, por causa do cabelo liso de adolescente. — Eu nem nasci no hospital, foi debaixo de uns bambuzais. Minha mãe estava subindo o morro e não aguentou chegar em casa. Meu pai teve que descer com um lençol branco.
Seu Manoel, o pai de Índio, tocava cavaquinho, cantava e compunha para a Unidos da Tijuca, além de participar de muitas serestas. Foi por suas mãos que o filho desfilou pela primeira vez no carnaval, no Império da Tijuca, aos 12 anos, como pandeirista — com direito a prêmio.
— Mas a escola não me deu o troféu, porque tinha que ter tido permissão do juizado de menores para eu sair na escola. Aí eu nunca mais quis sair em escola de samba, e não saí até hoje. Vi que aquele não era o mundo... meu mundo é palco — conta Índio, que aos 17 já estava tocando na noite e logo depois foi parar na TV Globo, no lugar do amigo Neném da Cuíca, que não pôde cumprir uma data. — Peguei a cuíca e comecei a solar “Brasileirinho”, “Cidade Maravilhosa”... Quando vi, era um destaque. Comecei a sambar com a cuíca, a fazer um monte de coisa.
Índio da Cuíca (à esq.) com o grupo Brasil Ritmo, em 1972 Foto: José Santos / Agência O Globo |
Os trabalhos, a partir daí, foram muitos. Índio participou de programas como “Globo de Ouro” e “Brasil Especial”, e gravou em 1972 pela Som Livre um disco com o Brasil Ritmo, grupo que tinha com Neném. Viajou a bordo dos espetáculos de Ivon Curi e Jair Rodrigues, figurou em shows de Roberto Carlos e Alcione e correu o mundo em companhias artísticas lideradas por Joãosinho Trinta e por Haroldo Costa. Por três anos e meio, viveu na Suíça, e aí voltou para o Rio para se casar com sua paixão, Shirley, com quem está junto há 35 anos.
— A lembrança que eu tenho é a de um cara talentoso que tirava os sons menos convencionais de uma cuíca — diz o pesquisador Haroldo Costa, que esteve com Índio em uma turnê que passou por Costa Rica, Honduras e Nicarágua entre abril e maio de 1987.
Entre tintas
A história de “Malandro 5 estrelas” começou em 2005, quando o percussionista Paulinho Bicolor tomou conhecimento de Índio num espetáculo da Orquestra de Solistas na Sala Cecilia Meireles. Cinco anos depois, já como pesquisador à frente do blog Cuiqueiros, ele o encontrou por acaso na estação de trem de Cordovil. E marcou uma primeira entrevista, na qual o mestre da cuíca revelou o sonho de gravar um disco. Nos últimos anos, foi Paulinho quem cuidou de produzir esse disco, ao lado de Bernardo Oliveira, do QTV. Enquanto isso, vendo o trabalho com música minguar, Índio foi em busca do sustento como pintor de paredes — ofício aprendido no ano que passou nos EUA.
Para Paulinho Bicolor, mais do que a afeição pelo mestre foi a dívida da cultura brasileira com Índio da Cuíca que o moveu na realização de “Malandro 5 estrelas”:
— Ele leva a cuíca para outro lugar, como um instrumento melódico, solista à máxima potência. Índio dedilha a cuíca, toca como se houvesse teclas na pele da cuíca. E ela não é para isso. Ele explora esse paradoxo.
Matéria de Silvio Essinger para o jornal O Globo publicada em 28 de abril de 2021.
.
Grande matéria ( Paulinho bicolor)
ResponderExcluirFalando em cuíca,tudo é maravilhoso.
Que história linda da cuíca, índio e Shirley.
Paulinho Bicolor é um estudioso, pesquisador e apaixonado pela Cuíca e, é extremamente importante para o resgate desse maravilhoso e encantador instrumento.
ResponderExcluirResgatar e homenagear o Índio da Cuíca é resgatar um personagem tão importante da cultura brasileira. Parabéns e meu respeito a ti Paulinho Bicolor.
Parabéns Paulinho Bicolor, pela belissima matéria bem merecida a esse grande artista que e o Indio da cuiica.
ResponderExcluirEnorme respeito a esse músico grandioso.
ResponderExcluirParabéns tio, você merece tudo e muito mais.
Esqueci... Excelente artista. Abraços...
ResponderExcluirSlot Machines in the casino - JT Hub
ResponderExcluirFind out how casinos work with Slot Machines in the 고양 출장샵 casino 충청북도 출장마사지 and what 서귀포 출장샵 it means to work with Slot Machines in the casino. You'll find detailed 정읍 출장샵 information 서귀포 출장샵 on