O texto reproduzido nesta postagem é um lindo depoimento de Antônio Miranda, mais conhecido como Toninho Professor, cuiqueiro da pesada, professor de Biologia nas horas árduas e, segundo o próprio, atrevido a brincar com as palavras de vez em quando. Trata-se de uma bela homenagem a todos os amantes da cuíca que revela sua profunda paixão pela "chorona" (o que para mim não é surpresa nenhuma). Em 2004, desfilamos juntos pela Paraíso do Tuiuti e entramos na avenida lado-a-lado com o dia já amanhecendo. Quando olhei, ele estava aos prantos, extremamente emocionado, chorando e sorrindo ao mesmo tempo. Aquele foi o primeiro desfile da minha vida e foi naquele momento, observando o Toninho, que eu entendi o que é ser um cuiqueiro. Obrigado professor!
HOMENAGEM AOS CUIQUEIROS
Cuiqueiro que se preza não pode ver uma câmera! Tá sempre rindo e de boca aberta. Mas por que será que todo cuiqueiro sorri? Sorri porque a arte de tocar cuíca é para poucos. Bem poucos. Sim, tocar cuíca é fácil. Mas tocar com alma é outro papo. Tocar com alma é colocar o sentimento em cada nota que tira, em cada puxada na vareta, em cada agudo tirado. É tocar como se a cuíca fosse a extensão de seu corpo e o traduzir de sua alma.
Diferente dos outros, cuíca não se bate! Cuíca se toca. Se toca, ô cara! Não é só, como diz o povo que gosta de sacanear os cuiqueiros, “puxar o pau”. É muito além disso. É tratar o instrumento como a mulher amada, é tocar com carinho, com sentimento de modo a obter de cada nota o mais belo dos sons, deixando, a cuíca (e a mulher amada também!) como em pleno estado de gozo. Gozo para quem toca e para quem ouve também.
Sem esquecer a importância das caixas, surdos, repiques, tantãs, tamborins e os outros, temos na cuíca um instrumento mágico. Mágico por sua diversidade de possibilidades e mágico porque os leigos imaginam como é tocado. De tão mágico, atrai sempre o rebolar da mulata, as cadeiras da passista que, como enfeitiçada, vem sambar pertinho para delírio do cuiqueiro. É por isso que abre aquele puta sorriso! Tinha que ser diferente? Francamente não.
Já passei por diversas situações de chegar pleno desconhecido em uma roda de samba e, após a primeira gargalhada na cuíca, atrair o olhar de muitos. Chego cuiqueiro anônimo. Saio cercado de amigos. Certa vez, em uma dessas rodas, escutei uma frase que traduz muito disso. “Quem chega com uma cuíca não tá de inocente na roda...”. Acho que é isso mesmo. Quem toca cuíca sabe o que faz e como faz. Sabe dar a chorada bonita no samba de mesa, quando a canção exige, dando, além do molho e suingue, um ar de tristeza e dor de cotovelo para, no minuto seguinte, cair na gargalhada trazendo a alegria geral.
De tão incomum, o instrumento vira sobrenome. É comum conhecermos os Fulanos e cicranos da cuíca! (Não vou aqui nomear nenhum para não cair na injustiça com os demais.). Mas não se conhecer fulano do surdo, beltrano da caixa... é coisa só de cuiqueiro mesmo!
Porque, a cuíca, vira a extensão de si mesmo? Além de ser tocada junto ao corpo, a cuíca exprime um pouco da alma humana, da alegria e da tristeza, da marcação contínua que dá o suingue, da rápida aparição e destaque para, no minuto seguinte misturar o seu suingue a todos os outros, completando com cada nota, cada toque o desenho da percussão.
Como disse o Natal, “se bateria de escola de samba fosse sinfônica, a cuíca seria o violino”. Nem precisa dizer o quanto concordo com ele. E, mais que isso, ser cuiqueiro é ter em si o pleno estado de arte, de graça, o sorriso de quem admite que a vida é bela, mesmo nas choradas de tristeza que a cuíca dá e que são plenamente compensadas pelas gargalhadas dela mesmo que contagiam ao cuiqueiro e a todos que ouvem. Em suma, ser cuiqueiro é conhecer de pertinho bem mais que as cadeiras da mulata, da passista. Ser cuiqueiro é ter respeito à alegria da vida.
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CARA QUE TEXTO LINDO É EXATAMENTE COMO ME SINTO, MEUS OLHOS ESTÃO CRAVEJADOS DE LÁGRIMAS E MEU CORAÇÃO(QUE JÁ TEM ALGUMAS SAFENAS) SORRINDO.
ResponderExcluirPEÇO LICENÇA PARA COPIAR ESTE TEXTO E COLOCAR EM MEU BLOG.(COM TODOS OS CRÉDITOS)
VALEU PAULINHO DEMOROU MAS QUANDO VEIO DISSE O PORQUE!!!!!!
Paulinho, muito obrigado pela apresentação do texto. Achou q o valorizou (e a mim também) ainda mais! obrigado mesmo meu irmão!
ResponderExcluirpele de Gato, fique á vontade de postar o texto no teu blog. Aliás, falando no seu Blog. dei uma olhada e achei muito legal. Rico em informações, fotos, vídeos. parabéns pelo blog e, desde já, autorizo e me sinto honrado em publicar no blog!
ABRAÇOS
Antonio Miranda
Tuninho Professor
Obrigado Antônio ou Tuninho Professor(como preferir), pela autorização e pelos elogios ao meu Blog, quem sabe um dia desses não nos esbarramos nessas Rodas de Samba da vida, terei o maior prazer em conhece -lo e ao Paulinho Bicolor também.
ResponderExcluirum Salve aos Cuiqueiros !!!!!!!!
Marcelo Paxu.
Paulinho,
ResponderExcluirEste texto foi muito interessante, comecei a tocar a pouco mais de 6 meses, mas me encantei e não consigo mais tocar outro instrumento, toquei sexta e domingo, a cada dia aprendendo mais,depois daqueles toques que você me deu,estou cada vez mais dando uns choros diferentes, espero um dia ter o prazer de tocar com você em alguma roda, e isso seráno meu niver em maio, parabéns com o seu blog e sucesso na sua vida.
Aos amigos cuiqueiros qualquer dia desses nos esbarramos em alguma escola de samba ou roda de samba.
Forte Abraço,
Junior - Estácio - RJ
Sem palavras, expressão fiel da "alma de uma cuíca". Obrigado.
ResponderExcluirSem palavras !!lindo,lindo parabens paulinho .
ResponderExcluirLindo e emocionante o texto! Usamos uma pequena parte dele com todos os créditos na página do face e Instagram da Cia Percussiva. Gratidão
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