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Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Osvaldinho da Cuíca - 80 anos

Hoje é dia de reverenciar um dos nossos maiores mestres: Osvaldo Barro, o nosso querido Osvaldinho da Cuíca, completa hoje 80 anos de vida! Paulistano nascido no Bom Retiro, foi cedo viver com a avó em Poá, cidade próxima à capital paulista. Ouvindo-a cantar cateretês à luz da lamparina, escutando rádio pelo serviço de autofalantes da pracinha e observando os festejos do carnaval local, o pequeno Osvaldinho teve ali os seus primeiros contatos com a música. No final dos anos 1940, voltou a morar com uma tia em São Paulo, onde definidamente se encantou pela batucada ao ver e ouvir nomes como Herivelto Martins, Monsueto e Ataulfo Alves nos cinemas que contagiavam a atmosfera cultural na década de 1950. A inspiração dos filmes o levou a transformar a ferramenta de trabalho do seu primeiro ofício, uma caixa de engraxate, no instrumento musical em que pôde dar as primeiras exibições de sua imensa habilidade percussiva.


Habituado a fazer ponto na frente de uma gafieira do Tucuruvi, engraxando sapatos e batucando na caixa, Osvaldinho logo fez amizades com os sambistas da região, integrantes dos cordões que viriam a formar algumas das atuais escolas de samba da Paulicéia. Aos 14 anos, entrou para o cordão Garotos do Tucuruvi, onde compôs os seus primeiros sambas e se aproximou dos instrumentos que o tornariam famoso, principalmente a sua amada cuíca, inspirado por grandes cuiqueiros da época como Zé da Rita e Boca de Ouro. Aos 18 anos, já havia se tornado um músico profissional, participando de gravações em discos como percussionista, acompanhando diversos cantores e cantoras em casas noturnas e programas de rádio, mas foi no grupo de teatro popular do poeta Solano Trindade que ganhou seu nome artístico, conforme ele mesmo relata em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo. O nome Osvaldinho da Cuíca, ao se espalhar pelo mundo, se transformou numa verdadeira bandeira de popularização da "chorona" e não faltam provas para evidenciar o quanto ele foi e ainda é um cuiqueiro excepcional.



Muito mais do que um ícone para a cultura da cuíca, Osvaldinho herdou o posto de autêntico símbolo do samba paulista, equiparando-se a nomes como Geraldo Filme, Henricão, Adoniran Barbosa e Germano Mathias, dos quais continua sendo um discípulo fiel. A passagem pelo conjunto Demônios da Garôa foi um importante acontecimento em sua ascensão artística, bem como a constante atuação em diversas frentes da Vai-Vai, sua escola do coração, por três vezes campeã com sambas de sua autoria, dos seis que ele teve a felicidade de cruzar a avenida sambando com a maestria digna de um genuíno mestre-sala. Sua trajetória é também marcada pela discografia que apresenta seu valioso trabalho autoral (num total de sete discos) e ainda pela grande contribuição à preservação da memória do samba em publicações como Batuqueiros da Paulicéia, do qual é coautor. Já o livro Sampa, Samba, Sambista, de Maria Aparecida Urbano, narra a vida desse grande artista de forma muito mais detalhada do que cabe na singela homenagem que prestamos aqui. Devemos ser gratos ao tempo por dar ao nosso mestre tamanha longevidade. Osvaldinho chega aos 80 anos de vida, mas há muito que seu nome já se tornou eterno. Viva Osvaldinho da cuíca! Viva o nosso mestre!
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