Os amantes da cuíca vem tendo grande frustração com os discos de samba-enredo nos últimos anos, pois o som da chorona tem sido suprimido das gravações como se ela nem existisse nas baterias. Mas, por qual razão isso está acontecendo se hoje o aparato tecnológico já é capaz de superar qualquer dificuldade de produção? Nada melhor do que ouvir uma das maiores autoridades no assunto para buscar uma resposta. Convidamos Nilsinho Neon para expor a opinião de quem tem na bagagem quase cinquenta anos de desfiles no carnaval carioca e mais de três décadas de gravações de cuíca em discos de samba-enredo. Com propriedade, seu depoimento trás uma breve análise do tema e um resumo de sua própria experiência no samba.
Intro
Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.
(To best view this blog use the Google Chrome browser)
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
A cuíca nos discos de samba-enredo [Parte 1]
Os amantes da cuíca vem tendo grande frustração com os discos de samba-enredo nos últimos anos, pois o som da chorona tem sido suprimido das gravações como se ela nem existisse nas baterias. Mas, por qual razão isso está acontecendo se hoje o aparato tecnológico já é capaz de superar qualquer dificuldade de produção? Nada melhor do que ouvir uma das maiores autoridades no assunto para buscar uma resposta. Convidamos Nilsinho Neon para expor a opinião de quem tem na bagagem quase cinquenta anos de desfiles no carnaval carioca e mais de três décadas de gravações de cuíca em discos de samba-enredo. Com propriedade, seu depoimento trás uma breve análise do tema e um resumo de sua própria experiência no samba.
domingo, 21 de abril de 2019
Vídeo 23 - Água de Cuíca [Ernani Cal e Lucas Gralato]
Composição: Ernani Cal e Lucas Gralato
Gravado no estúdio Podrera Records (2018)
domingo, 31 de março de 2019
Cuiqueiros 8 - Manoel Quirino
Originalmente publicada em 16 de novembro de 1935, esta foto ilustra uma reportagem da revista O Cruzeiro sobre a visita de dois bailarinos russos, Clotilde e Alexandre Sakharoff, ao terreiro da escola de samba Lyra do Amor, no bairro carioca de Bento Ribeiro, acompanhados de personalidades da alta sociedade brasileira.
Segundo a revista, os visitantes "se deliciaram ouvindo o ritmo estranho do samba de nossa terra, com suas cuícas, seus tambores monótonos, seus violões plangentes e seus cavaquinhos. Os artistas russos mostraram-se maravilhados com aquele espetáculo de arte primitiva, revelando seu invulgar interesse pelos instrumentos e pelos motivos musicais que escutaram".
Além da enorme satisfação que nos dá simplesmente saber da sua existência, esta bela imagem de Manoel Quirino traz também a oportunidade de observar algumas características que a cuíca tinha no passado. Como o próprio Rafael Galante observa, vemos aí um instrumento "na transição de sua forma e técnica de execução antiga". Essa antiga técnica de execução já foi tema de um post AQUI no blog. E quanto às suas antigas características físicas, vale comparar esta cuíca de Manoel Quirino com o seguinte relato de Mestre Marçal a respeito das cuícas que ele via em sua infância:
"Naquela época a cuíca ainda era encourada com tachinhas. Esticava a pele e ia colocando tachinhas. E a vareta não era como a de hoje não. Furava-se a pele com alfinete quente, pregava-se uma arruela de couro por cima e por baixo da pele e amarrava o bambu com arame. Aquilo tinha pouca duração porque o próprio arame ia cortando a pele. Ou então o arame partia. Depois apareceram as cuícas como essas de hoje, que só arrebentam mesmo quando a pele arrebenta" (Depoimento prestado ao jornalista Sérgio Cabral em 1979).
Vemos nitidamente a arruela de couro mencionada por Marçal no centro da pele da cuíca de Manoel Quirino. Já o bambu preso com arame não dá pra enxergar, assim como as tachinhas, mas podemos deduzir que estas estejam ali, fixando o couro em toda a circunferência na barrica de madeira. Desta forma, o método de afinação consistia em aproximar o instrumento à uma fogueira para esticar o couro sob efeito do calor. Depois, como disse Mestre Marçal, apareceram as cuícas como essas de hoje, não mais com tachinhas, arame e arruelas. Mas quando exatamente teria ocorrido essa transição na estrutura do instrumento e também em sua técnica de execução?
Não é simples responder esta pergunta. Entretanto, comparando esta imagem de Manoel Quirino, registrada em 1935, como outra fotografia também já publicada aqui no blog, de Marcelino de Oliveira, produzida em 1937, vemos que numa diferença de apenas dois anos, o atual mecanismo de afinação e a atual técnica de execução já estavam em uso. Mas além disso tudo, tem ainda o que é de fato importante: o sorriso no rosto de Manoel Quirino demonstra que tocar cuíca traz felicidade há muito mais tempo do que um famoso meme fez, recentemente, todo mundo acreditar.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
Música 20 - Tem brabo no samba [Cena de Escola de Samba]
O repertório é formado em grande parte por pontos de candomblé, dentre eles Nanã Imborô, que parece ter inspirado Mas que Nada do genial Jorge Ben Jor. Mas para além deste dado curioso, são os arranjos do maestro José Prates e a execução da orquestra, com destaque para o solo vocal do cantor Ivan de Paula, que de fato traduzem a grandeza do disco. Suas faixas correspondem aos quadros daquele espetáculo teatral, como “O Navio Negreiro”, “Festa do Côco”, “Macumba”, “Funerais de Rei Nagô” e ainda “Cena de Escola de Samba”, subtítulo da faixa Tem brabo no samba, executada para a encenação de um desfile carnavalesco assim descrito na contracapa do álbum:
A escola de samba desceu o morro e já se encontra no centro da grande metrópole carioca em pleno carnaval, enquanto os passistas e cabrochas se refrescavam nos bares das proximidades. O surdo, devidamente afinado, novamente invocou os deuses do ritmo que baixaram, se incorporando nos tamborins, reco-recos, cuícas e agogôs, fazendo-os bradarem num crescente infernal! Tam... Tam... Tam...! Porta-estandarte! Mestre-sala! Cabrochas! Passistas! Bateria! Cantam agora o samba! Hino de alegria... evocação à liberdade daqueles que sofreram o cativeiro, músicas benditas por Deus que fazem o povo sorrir na sua hora mais triste.
Desde a introdução, a música surpreende pela originalidade, revelando gradativamente a diversidade de timbres da sessão de ritmo formada pelos músicos Mateus (tarol), Waldemar (surdo), Hugo (surdo), Darcy (tamborim), Sabú (agogô), Hélio (reco-reco) e o grande Eliseu Félix (pandeiro), que mais tarde formaria o famoso trio percussivo com Luna e Mestre Marçal. Quanto à gravação da cuíca, nem precisava ter o nome Boca de Ouro na ficha técnica para identificar que foi ele o executante.
Com seu estilo inconfundível, nessa performance o Boca nos dá ainda mais elementos para considerá-lo um dos maiores cuiqueiros de todos os tempos. Esse registro evidencia que ele aplicava a cuíca como um instrumento de função essencialmente melódica, produzindo escalas, glissandos e intervalos de notas nitidamente orientadas pelo sistema tonal. Temos aí, portanto, o que justifica a enorme importância dessa gravação, pois ela nos serve como um excelente material para a reflexão em torno da função musical da cuíca, um assunto ainda pouco discutido, mas muito mais complexo do que podemos imaginar.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Vídeo 22 - Estudo para cuíca sobre gravação de Pretinho da Serrinha [por Juan Carlos Marras]
Estudo para cuíca - Tristeza pé no chão - Página 1 |
Estudo para cuíca - Tristeza pé no chão - Página 2 |
Estudo para cuíca - Tristeza pé no chão - Página 3 |