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Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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terça-feira, 19 de março de 2013

Especial Cuícas: no roncar de uma tradição

Reportagem retrata momentos, curiosidades e grandes valores do instrumento que possui sua história como uma grandiosa essência


O DIA online por Rafael Arantes

Tradicional, histórico e especial: em apenas três palavras, podemos citar importantes valores de um incrível instrumento chamado cuíca. Presente desde os primórdios do samba, do partido alto ao samba-enredo, o instrumento sempre foi visto com um grau de importância além do normal. Com fabulosos ícones presentes nos degraus de sua história, a cuíca sempre contou com nomes de grande peso por sua caminhada na cultura carioca.

No samba, dois nomes ainda são lembrados e vistos com grande valia quando o assunto são os cuiqueiros de mais tradição. Zeca e Carlinhos da Cuíca são nomes que protagonizaram todo o decorrer das épocas e fases vividas neste hall de lembranças. Com uma alta versatilidade, a cuíca sempre se fez presente pelos cantos da Cidade Maravilhosa, e seus destaques mais antigos ainda são bastante lembrados. Veja um dos grandes mitos:

Profissionais do Carnaval exaltam importância

Um dos mais jovens mestres de bateria da atualidade, Wallan Amaral, da Vila Isabel, é sim um grande apaixonado pela história da cuíca. Criado, literalmente, dentro do ambiente do samba, o atual comandante da Swingueira de Noel revelou uma forte ligação da Azul e Branca com o instrumento, e ainda contou sua visão sobre o papel da peça no conjunto de uma bateria.

"Acho que a cuíca tem uma grande importância. Um toque bem marcado, bem compassado, indica perfeitamente o tempo entre as marcações de 1ª e 2ª, há todo um balanço. Na Vila, por exemplo, sempre existiu uma ligação muito forte com o instrumento. Há muitos anos atrás, chegamos a desfilar com 48 cuiqueiros na bateria. É muito especial", disse Wallan, que teve seu argumento de valorização do instrumento reforçado pela visão de Sergio Naidin, julgador de bateria do Grupo Especial do Carnaval carioca. "É um instrumento que sempre se fez presente, inclusive, antes mesmo das baterias de escola de samba ganharem tamanha proporção. Musicalmente falando, ele oferece um timbre a mais, uma outra referência. Além de possuir um belo balanço, a cuíca possui uma grande alternância harmônica, dá toda uma abordagem melódica ao ritmo. Sem contar, que é o instrumento que mais se assemelha à levada do partido alto. Penso que poderia haver uma maior exploração desta peça nas baterias, este instrumento possui toda uma sutileza musical que pode contribuir, e muito, para o embelezamento geral do conjunto", ressaltou Naidin.

Personalidade fez história

Das 40 décadas em que vem fazendo parte da história do Carnaval, Nilsinho Neon dedica-se à cuíca há exatos 26 anos. Muito conhecido por sua forte ligação com o instrumento, o atual líder dos cuiqueiros da Beija-Flor é o responsável pela ideia de utilizar a iluminação de neon durante as apresentações, fato ocorrido pela primeira vez em 1992, além de ser o criador de uma das maiores lendas quando fala-se da história da peça no Carnaval: A misteriosa 'Água de Cuíca'.

Famoso Nilsinho Neon é o grande idealizador da lendária 'Água de Cuíca'
Foto: Divulgação

"Em 1985 fiz uma viagem para Roma, com o Salgueiro, e lá tive uma ideia diferente para ganhar dinheiro. Dei o nome de 'Água de cuíca' para o líquido que usava para molhar o tecido antes de tocar. Na verdade, não há nada de especial, só coloquei uma identidade pessoal nela. Batizei o líquido, coloquei em um tubinho, e assim nasceu a água de cuíca(risos)", contou o Mito, que ainda revelou outra curiosidade do passado do instrumento.

"São muitas diferenças. Antigamente, não havia uma afinação definitiva, utilizavam uma pequena fogueira para esquentar o couro e chegar a um timbre que agradasse. Mas, a cada ano, o samba precisa evoluir. Não podemos ficar parados no tempo, precisamos nos adaptar", ressaltou.

Mercado em baixa

Com 46 anos de idade, Geraldo Cardoso vem se dedicando há mais de duas décadas a este instrumento tão especial. Com uma grande história construída dentro da Vila Isabel, o experiente cuiqueiro segue vivenciando diversas mudanças nos costumes dentro das baterias. Neste cenário desde 1987, o sambista ressaltou um fato que, infelizmente, se faz muito presente nos dias de hoje: A ausência de tocadores de cuíca, fato que vem sendo bastante notado e lamentado no Carnaval.


Geraldo construiu grandiosa história na ala de cuiqueiros da Vila Isabel
Foto: Divulgação

"Antigamente era um outro ritmo, uma pegada mais devagar, sem contar nas demais diferenças. Quando comecei, demorei dois anos para conseguir desfilar, tive que aguardar uma vaga em uma fila de espera. Havia um número maior de ritmistas, mas muita coisa aconteceu. Do pessoal de antigamente, muitos converteram suas religiões, outros se mudaram, e alguns até faleceram. É preciso uma renovação. Tocar cuíca não é tão simples, é necessário uma dedicação a mais e isso, às vezes, acaba afastando algumas pessoas que não possuem uma grande paciência de aprendizado. É preciso perseverança, tem que ter vontade e ir até o final", disse Geraldo, que ainda comentou uma curiosidade do posicionamento estratégico dos cuiqueiros durante os desfiles.

"O instrumento pede que a gente esteja destacado. É preciso estarmos na primeira ou na última fila. Se viermos atrás das peças agudas, ou no meio da bateria, o som da cuíca acabará sendo abafado. É um instrumento especial, é preciso ser estudado", concluiu.

Inovações rítmicas

Desfilante há apenas três anos, Luís Oliveira, mais conhecido no Salgueiro como Luís Percussa, já vivenciou momentos distintos dentro da ala de cuiqueiros da Vermelho e Branco. Já acostumado com a sustentação da levada básica durante o desfile, o sambista participou da novidade realizada pelos ritmistas salgueirenses no último Carnaval.

Luís Percussa admira ideia das inovações rítmicas para o instrumento
Foto: Divulgação

"A ideia partiu do mestre Maurão, da Rocinha. Como não foi utilizada lá, ele acabou passando para o Marcão, que gostou e nos passou o projeto. Com muito ensaio e dedicação, conseguimos desempenhar a ideia de maneira perfeita e levar para a Sapucaí", comentou Luís, ao falar sobre os desenhos rítmicos na levada da cuíca durante a segunda parte do samba. No desfile deste ano, os cuiqueiros da Furiosa levaram para a Avenida um toque diferente em alguns momentos cruciais do samba-enredo, fato que foi exaltado pelo ritmista.

"Como não somos um grupo tão denso, não houve uma percepção muito grande, mas esperamos seguir com o projeto. É uma novidade muito válida, desde que esteja encaixada dentro do samba. Vejo a cuíca como um instrumento de sustentação, mas também é preciso inovar", projetou.

Grupo unido e fortificado

Outra inovação notada mais recentemente vem do outro lado da cidade. Em Madureira, os integrantes da ala de cuícas da bateria do Império Serrano também possuem um costume diferente dos demais. Há alguns anos, os sambistas resolveram marcar constantes encontros entre si, e o fato foi exaltado por Rafael Tavares, ritmista da Sinfônica do Samba há quatro anos.

Cuiqueiros do Império Serrano valorizam grande integração do grupo
Foto: Divulgação

"Faz muita diferença, é claro. Nós somos uma família, os Cuiqueiros da Sinfônica formam uma grande família. A primeira grande escola que desfilei foi o Império, e lá eu conheci grandes pessoas, grandes amigos. Tenho certeza que a nossa união é sem igual, não tem como comparar, e todos deveriam ser assim. Em algumas outras agremiações que já desfilei, não existe a mesma união, e isso é errado. É preciso valorizar o instrumento, o grupo que trabalha junto. A cuíca é uma peça diferenciada, é preciso vê-la com outros olhos", disse Rafael, que ainda elogiou a grande união dos componentes imperiais. " Nos entendemos pelo olhar, isso já se tornou um ritual", concluiu.

Diante de um instrumento tão tradicional, o estilo mais contemporâneo também vem influenciando algumas transformações. Não são somente danças, coreografias e festejos constantes que seguem modulando um novo cenário entre os cuiqueiros cariocas. A grande essência do instrumento na história do samba vem se mostrando com grande valia para a sustentação deste grande ícone musical para os novos tempos.

Zeca da Cuíca é um dos grandes nomes na história do tradicional instrumento
Foto: Arquivo
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domingo, 17 de março de 2013

Bloco das Cuícas 2012

A 17ª edição do Trem do Samba contou, pela primeira vez, com a participação do Bloco das Cuícas num vagão especialmente reservado aos cuiqueiros. O vídeo a seguir, produzido por Zezé Fonseca, registra momentos deste significativo acontecimento para a história da "chorona", enfatizado neste belo depoimento da própria Zezé publicado como descrição do vídeo:

"Nunca foi tão prazeroso fazer um vídeo e participar de um evento no meio dos verdadeiros cobras da cuíca do Rio de Janeiro. Desde a concentração no "Balança mas não cai", até a chegada em Osvaldo Cruz, eles deram um verdadeiro show no Trem do Samba 2012, mostrando que o ronco da cuíca faz o chamado no samba. Parabéns a todos os participantes e que venha a 18ª edição do evento".

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