Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Homenagem a Zeca e Marçal

Hoje, precisamente neste 11 de setembro de 2020, o blog Cuiqueiros completa dez anos de existência. Não haveria maneira melhor de celebrar essa marca do que reverenciando a memória de dois dos nossos maiores ícones: Mestre Marçal, que faria 90 anos no último dia sete; e Zeca da Cuíca, de quem lamentamos o falecimento no último dia quatro.

Zeca da Cuíca | Fonte - @utopicas_colagens

José de Oliveira, o nosso Zeca da Cuíca, ou simplesmente ZK, como ele mesmo costumava usar, partiu dormindo, aos 86 anos, em sua residência no morro de São Carlos, onde morou durante praticamente toda sua vida. Coube ao GRES Estácio de Sá comunicar a triste notícia da partida do baluarte, prestando a primeira das muitas homenagens que o seu Zeca vem recebendo, como esta bela colagem acima, de William Gomes, e também a interpretação de "O ronco da cuíca" durante a live do Samba do Trabalhador, cuja versão original não seria a mesma sem a magnífica cuíca gravada pelo Zeca. Na verdade, ele nos deixou inúmeras outras gravações magníficas em discos de artistas dos mais renomados, marcando também o seu nome na história da música brasileira como um dos maiores cuiqueiros do seu tempo. No mundo do samba, em especial, Zeca representava um elo com uma realidade atualmente acessível apenas em documentos e na memória dos antigos. Para nossa sorte, ele deixou algumas de suas lembranças gravadas na série Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, produzida pelo Centro Cultural Cartola, em 31 de janeiro de 2009, falando de sua infância, família, sua carreira e de sua íntima e apaixonada relação com a cuíca, o que fica ainda mais nítido nos momentos em que entremeia a conversa com os sons de sua chorona.  


Nilton Delfino Marçal, o nosso Mestre Marçal, já nos deixou há mais tempo, tendo falecido no dia 9 de abril de 1994 com apenas 63 anos. Seu pai, o grande compositor Armando Marçal, faleceu ainda mais precocemente, com 44 anos, deixando para o filho seu posto na Rádio Nacional, o primeiro emprego de Mestre Marçal como músico profissional. A partir de então, sua biografia seria marcada por episódios que o elevaram à condição de um dos maiores sambistas de todos os tempos. Dos programas de rádio como percussionista e das primeiras apresentações como cantor em gafieiras, passando pelos desfiles de carnaval como ritmista e diretor de bateria, se tornou um dos músicos mais requisitados para gravações em discos, dentre as quais se destacam suas magistrais atuações tocando cuíca. Mais tarde, chega a ter sua própria discografia, passando de acompanhador a protagonista. Sua história pode ser melhor conhecida através da bela pesquisa de Vinícius Barros; sua personalidade, pelo fascinante depoimento de Wilson das Neves; e sua própria pessoa, pelo programa Ensaio gravado na Tv Cultura, em 1991.


Zeca e Marçal nasceram em momentos bem próximos, 1934 e 1930, respectivamente, partiram em momentos bem distantes, e agora ambos se encontram na eternidade. Melhor seria imaginar que agora eles se reencontram na eternidade, que agora podem se rever e reviver a amizade que inspirou a composição "Dois sem vergonha", e que suas cuícas possam novamente dialogar, endiabradas, na língua dos anjos.


Obrigado, muito obrigado, muitíssimo obrigado a todas e todos que acompanham este humilde espaço cuiquístico. Que venham mais dez!