Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cuiqueiros de Floripa

Essa matéria saiu no Blog TAMBORIM, de Ângela Bastos, no dia 16 deste mês. Mostrando que em Florianópolis a cuica também chora bonito! 

A cuica vai roncar...


A cuica vai roncar na festa do Berbigão do Boca, dia 25, no Centro de Florianópolis. Afinal, serão 50 cuiqueiros das cinco escolas de samba formando uma das maiores alas de cuica que se tem ideia.
Dú, mestre da bateria da Unidos da Coloninha, está animado. Tocador apaixonado e professor, ele aproveitou um jantar oferecido por Nivaldinho Machado, agora à noite, para conversar um pouco sobre a importância do exótico instrumento para o samba. Papo vai e papo vem, foi sugerido para após o Carnaval um encontro com a vinda de convidados para uma grande roda. Dú estima que cada uma das cinco escolas desfilem com cerca de 10 cuicas na Nego Quirido.
Pelo que deu para perceber o grupo está disposto a montar uma confraria, como já ocorre em outros lugares.
Democrático
Ver os cuiqueros conversar é um aprendizado. A cuica é um instrumento parecido com um tambor. Pode ser tocada por qualquer pessoa, independente do sexo, seja adulto ou criança. Por isso, democrático. Por dentro, existe uma haste de madeira presa bem no centro da membrana de couro. O som é obtido friccionando a haste com um pedaço de tecido molhado (antes usavam querosene) e pressionando a parte externa com dedo, produzindo um ronco característico. Quanto mais perto do centro da cuica, mais agudo será o som produzido.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Música 6 - Cuícas Loucas

Cuícas Loucas é décima faixa do disco Batucada Fantástica Volume 3 - Luciano Perrone e seus Ritmistas Brasileiros, lançado pelo selo Musidisc em 1972. Trata-se de um "duelo" cuiquístico entre Mestre MarçalMinistrinho, sob uma esplêndida base rítmica conduzida pela bateria de Luciano Perrone.

O "duelo" entre as cuícas se inicia com as duas soando juntas, mas logo Marçal segue sozinho até o momento em que o cronômetro ultrapassa o primeiro minuto, quando então dá a vez a Ministrinho, que prossegue durante todo o restante da música, inclusive na "gargalhada" irretocável que se escuta no final, depois de um breve reencontro com o Marçal alguns segundos antes.

Ambos são viscerais, mas a diferença de estilo entre eles é nítida. Mestre Marçal transborda elegância numa sonoridade polida, em conduções espaçadas e fraseados cheios de suingue. Já Ministrinho apresenta uma estética "suja" (mas não menos deslumbrante), extremamente irreverente e também marcada por muito suingue. Resumindo: Cuícas Loucas é uma obra prima!

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A cuíca no jazz

Hoje em dia, talvez em função do alcance internacional que a televisão deu ao carnaval brasileiro, é difícil encontrar algum país que não tenha pelo menos uma escola de samba. O enorme sucesso da bossa-nova também contribuiu bastante para que o samba se tornasse um gênero musical globalizado. Assim, não demorou muito para que os seus instrumentos típicos, como a cuíca, passassem a ser utilizados em outros contextos musicais, como no universo jazzístico.


A imagem acima consiste na capa do livro JAZZ – History, Instruments, Musicians, Recordings, de John Fordham, publicado em 1993, onde constam algumas páginas dedicadas a instrumentos sul-americanos, caribenhos, asiáticos e africanos, introduzidos no jazz como resultado da busca por novas sonoridades. O músico que faz a apresentação de tais instrumentos é Naná Vasconcelos – abaixo, à esquerda – pernambucano com vaga cativa entre os maiores percussionistas do mundo e de toda a história da música.


Ampliada na imagem à direita, o livro apresenta a imagem de um modelo de cuíca não muito comum atualmente, com apenas cinco tirantes (parafusos de afinação), trazendo também a seguinte descrição do instrumento: A cuíca é um tambor de fricção brasileiro. Há uma vareta anexada dentro da pele, que o instrumentista esfrega com um pano umedecido, aplicando pressão sobre a pele, criando um gemido vocalizado bastante característico.

É interessante notar que a cuíca está relacionada entre os instrumentos de percussão, mas é descrita como um "tambor de fricção", o que de certa forma corresponde ao debate iniciado na postagem "Cuíca é percussão?". Outro ponto interessante é a definição do som do instrumento como um "gemido vocalizado".

A presença da cuíca no universo do jazz também pode ser constatada através do exemplo compartilhado no player abaixo, um latin-jazz intitulado de Brazilian Sugar gravado em disco do percussionista novaiorquino Steven Kroon, que vemos na imagem. Tive a honra de conhecê-lo no ano passado, em Manaus, durante o 5º Festival Amazonas Jazz, e fiquei surpreso ao vê-lo tocar cuíca naquela ocasião, durante o show em que acompanhou a cantora Carla Cook. Em Brazilian Sugar, sua cuíca pode ser notada a partir dos 4min40seg, aproximadamente.


Outro registro onde a cuíca bate uma bola com o jazz é Rocking with Mocotó, obra instrumental gravada no disco Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó, produzido em 1974, porém, lançado somente 35 anos depois, em 2009, pelo selo Biscoito Fino. O disco celebra o encontro entre o trompetista Dizzy Gillespie, um dos maiores nomes da história do jazz, e o Trio Mocotó, que à época contava com um dos maiores virtuoses da história da cuíca, Fritz Escovão. Dizzy e Fritz estabelecem um diálogo brilhante entre o trompete e a cuíca.


Para finalizar, o registro de uma orquestra comandada por Quincy Jones interpretando a música Soul Bossa Nova, de sua autoria, num famoso programa de TV norte-americano. O cuiqueiro que aparece nas imagens é o paulista Edson Aparecido da Silva, conhecido como Café, residente há muitos anos nos Estados Unidos, onde construiu uma bela carreira baseada no intercâmbio entre o jazz e a percussão brasileira.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Confraria da Cuíca de Porto Alegre

No sábado passado, o Diário Gaúcho publicou uma matéria sobre a Confraria da Cuíca de Porto Alegre, reproduzida integralmente abaixo.


Eles fazem a cuíca roncar na avenida

Luiz Armando Vaz
luiz.vaz@diariogaucho.com.br

Criada há quatro anos, a Confraria da Cuíca conta com experientes músicos que, neste ano, darão um molho especial à bateria da Estado Maior da Restinga.

Em Porto Alegre, tem um grupo de músicos que se reúne regularmente para trocar ideias e comentar novidades sobre os sons de um dos instrumentos mais exóticos que existem: a cuíca. É a Confraria dos Cuiqueiros.

Fisicamente, a confraria existe há quatro anos. Porém, integrantes do grupo já se comunicavam virtualmente pela internet. Os primeiros encontros ocorrem nas bandas Itinerante e da Saldanha. Mas, agora, é na escola de samba Estado Maior da Restinga que os cuiqueiros estão se reunindo.

- Agilidade nas mãos

O organizador, Sérgio Barboza, herdou o gosto pelo instrumento do pai, Miro da Cuíca, de Santa Maria. Em Porto Alegre há muitos anos, Sérgio agora é um dos responsáveis pelo naipe de cuícas da Tinga.

O grupo está feliz da vida, pois recebeu do diretor de bateria da Restinga, José Augusto da Silva, o Mestre Guto, a promessa de que irá dobrar, neste ano, o número de cuiqueiros. No Carnaval passado, foram 14.

Fazem parte da confraria algumas figuras de destaque no Carnaval. Uma delas é Jandir Soares, o Biriba, 72 anos, que está há mais de 20 anos na escola, juntamente com seu irmão, Jair Soares, o Caolho da Cuíca, que aprendeu no Rio de Janeiro os segredos do instrumento.

– A cuíca é um instrumento fácil – garante Biriba. Ele diz ainda que a única coisa indispensável é ter agilidade nas mãos.

- Desfilam por até dez escolas

Alguns dos integrantes da Confraria da Cuíca desfilaram por dez escolas no Carnaval do ano passado. Garantem que só não desfilam em mais porque não dá tempo.

Na Muamba Oficial, quando não há exigência de fantasia, porém, desfilam junto com as baterias de todas as agremiações.

Na confraria, há, inclusive, um caso de paixão. Marquinhos e Karla são casados há seis anos. Ele é diretor de bateria da escola Samba Puro. Ela, é dona de casa. É uma união que tem na cuíca um amuleto do amor, garantem os dois.

- O que é

A cuíca é um instrumento semelhante a um tambor, com uma haste de madeira presa no centro da membrana de couro, pelo lado interno. O som é obtido friccionando a haste com um pedaço de tecido molhado e pressionando a parte externa com dedo, produzindo um ronco característico. Quanto mais perto do centro da cuíca, mais agudo será o som produzido.

- Chegou a hora dos ensaios técnicos

Começam neste domingo os ensaios técnicos do Grupo Especial de Porto Alegre, no Sambódromo. Serão quatro escolas que desfilarão a partir das 20h. Pela ordem: Academia de Samba Puro, Praiana, Império do Sol e Acadêmicos de Gravataí. Os ensaios vão até o dia 20, sempre aos domingos. No domingo passado, foi realizada a muamba das cinco escolas do Grupo Intermediário A.

- Folia nas ondas do rádio

A partir deste final de semana, o Carnaval ganha mais espaço na Rádio Gaúcha (AM 600 e FM 93.7). A agitação começa já no programa Gaúcha no Carnaval, que começará às 22h e irá até as 3h de domingo, com apresentação de Odir Ferreira.

No domingo, com Cláudio Brito no comando, a atração vai da meia-noite às 5h da segunda-feira, trazendo todas as novidades sobre a folia.

PENSAMENTOS
- A volta da cuíca é um resgate importante no Carnaval.
- O naipe de cuícas é a comissão de frente das baterias.
- É um instrumento muito pessoal: quem tem, não empresta a ninguém.
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*atualizado em 10/03/2022