Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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sábado, 7 de dezembro de 2013

Desembarque obrigatório

Para fechas as postagens de 2013 com chave de ouro, após mais doze meses de trabalho e pesquisa dedicados à cuica, como prova de que nosso amado instrumento musical merece um papel de destaque, enalteço a equipe de redação do caderno Rio Show - jornal O Globo - pela excelente escolha da imagem impressa na capa de sua última edição, publicada ontem, trazendo uma matéria especial sobre o Trem do Samba. Oswaldo Cruz vai tremer com o Bloco das Cuicas! Até!!!

Capa Rio Show - 06 de dezembro de 2013
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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Trem do Samba 2013 - Bloco das cuicas

Segundo as orientações do amigo Luizinho, grande batalhador para a permanência do Bloco das Cuicas no Trem do Samba, nossa participação no evento será dia 7 de dezembro (próximo sábado), partindo da estação Central do Brasil rumo a Oswaldo Cruz pontualmente às 19hs e 14min, no 1º vagão do 4º trem. Chegando em Oswaldo Cruz, partiremos da estação - tocando sob os comandos do Mestre Odilon - até a Rua Adelaide Badajós, concentrando em frente ao Bar do Pedrinho, nosso ponto de confraternização. 


As camisetas serão distribuídas entre 15hs e 16:30min no prédio "balança mas não cai" e poderão ser retiradas pelos cuiqueiros previamente inscritos, que se encontram com os nomes listados neste documento. Faremos a nossa concentração neste mesmo local, onde também serão esclarecidos maiores detalhes sobre a organização do bloco em relação ao evento. E viva a cuica, viva o samba, e viva todos os cuiqueiros do Rio, do Brasil e do mundo inteiro!
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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Três anos sem Ovídio

Hoje se completam três anos do falecimento de Ovídio Brito. Três anos que ele está lá, no quintal do céu, encantando a todos com o som divino de sua cuica. Podemos apreciar um pouco de sua enorme sensibilidade cuiquística através deste vídeo, onde o vemos ao lado do compositor Moacyr Luz cantando Samba de Fato, uma das inúmeras belas canções de seu primoroso repertório. É de aplaudir de pé!

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Dicionário Ilustrado de Ritmos e Instrumentos de Percussão

Esta postagem traz a definição para o verbete "cuica" descrito no Dicionário Ilustrado de Ritmos e Instrumentos de Percussão, de autoria de Reppolho, um grande músico brasileiro natural da cidade de Recife - PE. Segue o texto e suas valiosas informações:


CUICA - Membranofone reinventado no Brasil pelos escravos vindos de Angola e do Congo. Chamada de “mpwita” (em Angola), na língua Kimbundo é conhecida pelo nome kpuita. Conhecida também por Tambos-Onça ou Tambor-Onça, Omelê, Socador, Roncador, Porca, ou Onça e Ronca. Tem formato de um pequeno tambor com pele fixada a uma haste de madeira interna friccionada com um pano molhado reproduzindo um som parecido com um ruído de um porco. Anteriormente essa haste era externa. De acordo com o pesquisador Arthur de Oliveira, a cuica foi introduzida nas Escolas de Samba no Rio de Janeiro pelo músico João da Mina, do Morro de São Carlos. Segundo o percussionista paulista Osvaldinho da Cuica (Osvaldo Barro, 1940) o instrumento foi introduzido no samba na década de 1920. Com o passar do tempo tornou-se um instrumento de improvisação e melodia, passando a fazer parte do arsenal percussivo brasileiro, sendo incorporada às escolas de samba. Encontrada em diferentes gêneros musicais, como o jazz contemporâneo, o pop, o funk, entre outros estilos. Segundo Arthur de Oliveira “até meados da década de 1930, os sambistas traziam-na presa sob o braço esquerdo, com a membrana para trás. Com a mão direita atritavam a haste. A partir dessa época, começaram a pendurar a cuica ao pescoço com um cordão, enquanto a mão esquerda, colocada no centro da membrana pelo lado de fora, variava a tensão do couro produzindo variação na frequência do som gerado”. De acordo com Euclides Amaral “nas Ilhas de Madeira, São Tomé e Príncipe o termo “puíta” serve também para designar um tipo de dança de umbigada (Dança de Puíta), dançada em pares por homens e mulheres. Mas a cuica em si é uma espécie de aprimoramento da “puíta”, também conhecido “Angona”, instrumento usado nos antigos terreiros de macumba do Morro de Santo Antônio, demolido para a obra da Avenida Chile, no Centro do Rio de Janeiro. A cuica foi introduzida na percussão das Escolas de Samba por João Mina, músico do Morro do São Carlos, portanto, possivelmente pertencente ao grupo de Ismael Silva”.  
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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Música 12 - Tentação

Essa música faz parte do repertório de Tudo Azul, último disco gravado pela Velha Guarda da Portela antes do falecimento de seu autor, o Sr. Casemiro. Fica difícil saber o que é mais bonito nessa canção. Se é a música em si, de poesia simples e melodia triste. Se é a interpretação sincera de quem canta sem "profissionalismos". Ou se é a cuica, também num contracanto simples, triste e cheio de autenticidade. Uma obra prima essa gravação!

Casemiro Vieira

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Tentação
(Casemiro)

Não, não deixe que a tentação
Venha modificar nosso viver
Alimenta uma ilusão
E só você sabe porque
A tristeza que me invade
Só ele, Deus, é que sabe
O que eu sinto por você

Procuro encontrar uma solução
Mas não posso governar o coração
Que sofre por te amar em vão
Que sofre por te amar em vão

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Vídeo 12 - Mr. Quica (ミスター・クィーカ)

Na última postagem pudemos constatar que a cuica tem sido reverenciada de norte a sul do Brasil, assim como em outros países. Mas nosso aclamado instrumento musical se faz presente em muitos outros "territórios" do mundo, não apenas no sentido geográfico, mas também musical e expressivo em geral. E este vídeo demonstra exatamente isso. Com vocês: Mr. Quica!



P.s.: interessante essa variação na forma de escrita da palavra "cuica" com a letra Q no lugar do C. Até que funciona em termos fonéticos, mas acaba coincidindo com a conjugação do verbo "quicar" na terceira pessoa do singular (em português). 
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sábado, 7 de setembro de 2013

Do Oiapoque ao Chuí

Não haveria expressão melhor para dar título a essa postagem do que "do Oiapoque ao Chuí". Afinal, diversas atividades em prol da cuica estão sendo realizadas de norte a sul do Brasil. E isso sem falar no exterior, como o maravilhoso exemplo da Confederação de Cuiqueiros do Japão

Mas, em termos de Brasil, além dos tradicionais encontros de cuiqueiros no Rio de Janeiro, como o Cuicarioca, outros dois casos exemplificam muito bem o quanto a cuica é um instrumento difundido em nosso país. Essa imagem abaixo é da camiseta do Clube da Cuica do Ceará, coordenado pelo amigo Júnior da Cuica, lançada ontem durante um coquetel em Fortaleza. 


Já este vídeo, traz o registro do 1º Cuicapel, um encontro de cuiqueiros realizado em 2012 na cidade de Pelotas, localizada no estado do Rio Grande do Sul. Uma festa muito bonita com destaque para a homenagem ao mestre Pery, este senhor que aparece nessa imagem congelada, empunhando esta bela cuica de três campanas, sua companheira a mais 68 anos. 



Parabéns ao pessoal do Ceará, aos amigos de Pelotas, bem como de todo o Brasil e do mundo que se dedicam a glorificar a cuica de alguma maneira, assim como este humilde espaço virtual também procura fazer. Viva a cuica e os vários sotaques do povo brasileiro!
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sábado, 31 de agosto de 2013

3º Cuicarioca


O dia 7 de setembro não é mais apenas o 250º dia do ano, ou 251º em anos bissextos, de acordo com o modo gregoriano de contar os dias. Também não é mais o dia que dali a outros 115 se completa um ano. Tampouco um feriado nacional em razão da independência proclamada em 1822. 

Agora o dia 7 de setembro já é uma data tradicional do calendário cuiquístico, pois é o dia em que será realizado mais uma vez o Cuicarioca, evento que chega à sua terceira edição e propõe a confraternização dos cuiqueiros do Rio de Janeiro. Mas nada impede a presença de pessoas vindas também de outras localidades. Nesta festa todos são muito bem vindos, independente de sotaque, língua, bandeira ou estandarte. O que importa é a cuica.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cuiqueiros 5 - Neném da Cuica

O percussionista e pesquisador Luciano Cuica Play publicou recentemente em seu blog uma postagem sobre o músico Neném Guimarães, o que me inspirou a também escrever sobre este nome.

Neném da Cuíca

Figura presente entre os percussionistas mais requisitados para gravações em discos nas décadas de 60 e 70, Neném ficou conhecido como Neném da Cuica, naturalmente, devido à sua notória habilidade na execução da nossa querida "chorona". 

Nesse pequeno trecho da entrevista concedida ao Blog do Cuica Play, Neném evidencia sua relevância no cenário musical brasileiro citando alguns dos nomes que fazem parte de sua trajetória artística:

LUCIANO - Como e quando começou seu interesse pela música? É de família de músicos? Já começou na percussão?

NENÉM - Família de músicos. Meu pai tocava cavaquinho, meu irmão toca bateria (...). Por incrível que pareça, comecei com Ataulfo Alves. Depois Monsueto Menezes, Herivelto Martins, depois Jorge Ben Jor. (...) Naquela época eu tocava pandeiro, foi quando numa viagem ao exterior com Haroldo Costa, ele me pediu pra tocar cuica, nunca tinha tocado, aprendi comigo mesmo, peguei uma lata e ficava dentro do hotel, tocando sozinho. (...) ai foi assim de repente, mas eu já tinha influência por causa das escolas de samba, que eu saia no Salgueiro. 

Quanto à relação de Neném com a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, basta dizer que ele está entre os principais ritmistas da história dessa agremiação, destacando-se na avenida com sua cuica durante muitos anos.

Mas, além dos desfiles, gravações em estúdio e shows acompanhando grandes nomes da música brasileira, Neném também teve seu próprio trabalho artístico, tendo sido um dos distintos integrantes do grupo Brasil Ritmo.

Brasil Ritmo - Balança Povo (Som Livre - 1972) - capa e contracapa

Essa música abaixo está presente no disco Brasil Ritmo - Balança Povo, lançado em 1972, e nos prova que o Neném merece uma vaga cativa na galeria dos seletos cuiqueiros da história.



Uma coisa interessante é que, além do Neném, o grupo Brasil Ritmo também contava com outro grande cuiqueiro em sua formação, o Índio da Cuica, mas que neste trabalho tocava reco-reco. Aqui vemos o Índio e o Neném juntos na foto da contracapa do disco.

Índio e Neném da Cuica

Atualmente, o Neném continua a nos dar o prazer de vê-lo tocar, acompanhando ninguém mais, ninguém menos do que Jorge Ben Jor, na Banda do Zé Pretinho. Aqui nesse vídeo ele demonstra que a química musical entre ele e o Jorge Ben é realmente muito grande, como bem disse o Luciano Cuica Play na entrevista com o mestre. Mas arrisco a dizer que essa intimidade entre eles só não é maior do que a química que rola entre o Neném e a sua cuica. Então, viva o Neném da Cuica e viva a cuica do Neném!

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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Cuica era a grande atração no começo das escolas de samba

Matéria publicada na versão online do jornal Extra, em 13 de janeiro de 2012, assinada pelos jornalistas Leonardo Bruno e Gustavo Melo. Além de conter algumas informações curiosas a respeito da cuica pelos idos anos da década de 30, a matéria também faz menção a alguns grandes cuiqueiros do passado, como o Bené da Cuica, registrado na bela fotografia em preto e branco mais abaixo.

Cuica é igual mulher honesta, só o dono que toca - Maurício da Cuica
Normalmente, os instrumentos mais associados às escolas de samba são o pandeiro e o tamborim. O surdo também tem muito destaque, e as caixas e repiques fazem a batida característica dos nossos carnavais. Mas, no começo da história das escolas de samba, a grande vedete era a cuica! Nos jornais da década de 30, ela era sempre citada como o “som diferente” que vinha dos sambistas - na época, ela era chamada de “puíta”!

Quando os instrumentos das baterias começaram a ser vendidos nas lojas especializadas, a cuica enchia os olhos do público. Em 1934, na Casa David, ela era o item mais procurado, superando pandeiro, tamborim e reco-reco, que vinham em seguida. A embaixada francesa chegou a encomendar na loja dez cuicas para enviar para a França. E a 20th Century Fox queria mandar um exemplar para os Estados Unidos, no mesmo ano!

Na história do samba, tivemos grandes cuiqueiros, quase todos com o “nome artístico” associado ao instrumento, como Zeca da Cuica (fundador dos Originais do Samba, que não deixou de tocar mesmo depois de perder a visão) , Carlinhos da Cuica (um dos fundadores da Tradição), Bené da Cuica (que desfilou 248 vezes tocando em apenas dois carnavais, 1985 e 1986) e Casemiro (da Velha Guarda da Portela). Viva nossos cuiqueiros!

Carlinhos da Cuica, um dos grandes nomes do instrumento

Bené da cuíca largou o carnaval em 1987 e virou evangélico
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sábado, 6 de julho de 2013

Batuque é um privilégio [Oscar Bolão]

Peço licença ao amigo Zé Carlos da Cuica para reproduzir, como introdução a esta nova postagem, parte de um antigo comentário seu que traz observações bastante pertinentes ao tema que veremos agora: metodologia de estudo da cuica

Segundo ele, a cuica "é o instrumento de percussão (fricção na verdade) mais complicado de ser tocado! Não existe uma fórmula, quem quiser aprender tem que "ralar" muito! Todos os outros instrumentos tem uma didática clara e bem lógica. A cuica não. (...) você só adquire a habilidade necessária com a prática e entrega. Não existe nenhum cuiqueiro que toque igual ao colega. Temos base, inspirações (nos grandes músicos), mas cada um tem que trilhar o seu caminho sozinho".

Concordo com você, Zé Carlos. De fato, parece que ainda não temos um método de ensino que organize de maneira objetiva e aprofundada a variedade de questões referentes ao estudo da cuica em termos da execução do instrumento. Mas já existem alguns trabalhos que tratam desse assunto de maneira breve, e que já contribuem no sentido de formalizar, formatar, ou seja, transcrever o toque da cuica para a linguagem da teoria musical, servindo, assim, como uma alternativa sistematizada de estudo. Um excelente exemplo disso é o método Batuque é um Privilégio, da autoria de Oscar Bolão, certamente uma das maiores autoridades quando o assunto é percussão.


Através de fotos, textos e exercícios, Bolão mostra os fundamentos para execução de diversos instrumentos tradicionalmente utilizados no samba, como o pandeiro, o surdo, tamborim, agogô, reco-reco e, claro, a cuica, para a qual são propostos um total de quinze exercícios escritos em pauta de três linhas, representando as alturas grave, médio e agudo. Eles exigem certo grau de conhecimento sobre leitura musical, mas três deles foram gravados no CD que acompanha o livro e com o áudio fica mais fácil praticá-los. Cabe fazer aqui uma breve referência (e reverência) ao músico Fabiano Salek, cuiqueiro que realizou essas gravações. Bons estudos!




A cuíca é feita de um cilindro de metal ou madeira com uma pele de couro num dos lados. No centro desta é presa uma vareta fina de bambu, que, friccionada com um pano úmido, produz seu som característico. Com o dedo médio da mão, fazemos pressão sobre a membrana, extraindo sons de alturas diferentes. Conforme a região do país, a cuíca recebe outros nomes, como puíta ou roncador.

As linhas superiores da pauta representam a pressão exercida sobre a pele – para este procedimento, usaremos a designação de MEMBRANA; a pausa determina que o dedo não pressiona o couro, o que gera um som grave; as notas escritas na segunda linha indicam que o dedo deve exercer uma leve pressão sobre a membrana, produzindo um som médio; e a linha superior indica uma pressão ainda maior, extraindo-se, assim, um som agudo. A linha inferior é destinada à mão que fricciona a vareta e que designaremos MÃO. Sob as notas nela escritas, encontraremos símbolos que representam a articulação dos movimentos. O movimento de dentro para fora é feito à partir do corpo do executante e o movimento contrário é feito em direção ao seu corpo. Não havendo indicação, repetem-se os movimentos anteriores.



  • Exercício 1 [CD - Faixa 13]



  • Exercício 6 [CD - 14]




  • Exercício 12 [CD - 15]


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sexta-feira, 14 de junho de 2013

CuícApp

Não resta dúvida de que cuica e tecnologia se combinam muito bem e o CuícApp é mais uma prova disso. Até onde sei, esse já é o segundo aplicativo desenvolvido relacionado à cuica. O primeiro, Cuica Lite, também foi comentado aqui no blog. Segue a matéria publicada hoje no site do BOL anunciando a criação deste novo "game cuiquístico". E mais abaixo, um vídeo com o pessoal da agência Fábrica - responsável pelo CuícApp - mostrando que, enquanto cuiqueiros, eles são ótimos em desenvolver aplicativos.


quinta-feira, 6 de junho de 2013

"retumbante"

Essa notinha saiu hoje na coluna Gente Boa do jornal O Globo, no momento, dirigida pela jornalista interina Cleo Guimarães.
Que retumbem as cuicas!

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Música 11 - Piedade

Na última postagem aqui do blog, sobre o Projeto de Lei que visa reconhecer oficialmente o dia 21 de abril como o "Dia da cuica" no município do Rio de Janeiro, temos a prova de um gesto cujo objetivo é valorizar publicamente a cuica e seus instrumentistas. De fato, um instrumento tão representativo da música brasileira, como é a cuica, merece todas as honrarias e não pode permanecer marginalizado. Mas infelizmente, até mesmo dentro de seu ambiente natural, as escolas de samba, há quem discrimine sua presença, como fazem alguns mestres de bateria, o que é uma pena. E para piorar ainda mais, raramente vemos em algum disco de samba mais recente uma música onde a cuica possa ser ouvida com nitidez, e em muitos casos, nem cuica tem. Parece que antigamente não era bem assim. A cuica era privilegiada nas mixagens dos discos e ganhava o primeiro plano no nível de audição. Podemos verificar isso neste belíssimo registro da música Piedade, interpretada em 1966 por nossa Rainha Quelé, Clementina de Jesus. Acredito que o cuiqueiro dessa gravação seja o Mestre Marçal, e em praticamente todas as músicas do disco temos uma verdadeira aula de cuica, sem piedade alguma.


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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Projeto de Lei nº197/2013

Eis que me deparo hoje com esta excelente notícia publicada na página do Projeto Cuica, dizendo que o "Dia da Cuica" está em vias de se tornar oficial na cidade do Rio de Janeiro. Parabéns aos envolvidos nesta iniciativa, mas, antes de tudo, obrigado por se dedicarem a dar à cuica, e aos seus instrumentistas, o reconhecimento que tanto merecem. A cuica é um instrumento tradicional das escolas de samba e, por assim dizer, um instrumento musical tipicamente carioca. Mas sua representatividade vai muito além do Rio de Janeiro, sendo, talvez, o instrumento musical que melhor expressa o sentido de "brasilidade" em toda a nossa rica música popular. A oficialização dessa data em nível municipal é motivo de muita comemoração, sem dúvida, mas a cuica merece ter o seu dia como uma data oficial em esfera nacional. Espero ansiosamente que o prefeito Eduardo Paes tenha a sensibilidade de aprovar este Projeto de Lei e que possamos confraternizar em muitos outros encontros no dia 21 de abril, cada vez mais orgulhosos da nossa querida chorona. E viva a cuica!!!

Segue a notícia a que me referi acima:

Atenção, cuiqueiros: foi aprovado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e publicado no DCM de 14/05/2013, o Projeto de Lei nº197/2013, de autoria da Vereadora Laura Carneiro, que cria o "Dia da Cuica", em atenção ao pedido de João da Cuica , criador e realizador dos Encontros de Cuiqueiros (RJ), que este ano teve a sua 9ª Edição. Este PL altera a Lei nº 5.146, de 07 de Janeiro de 2010, que trata de EVENTOS, DATAS COMEMORATIVAS E FERIADOS da Cidade do Rio de Janeiro e institui o Calendário Oficial de eventos e datas. Obs.: Para virar Lei, efetivamente, o PL, aguarda a aprovação do Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

PROJETO DE LEI Nº 197/2013 
EMENTA:
ALTERA A LEI N.º 5.146, DE 7 DE JANEIRO DE 2010, PARA INCLUIR O “DIA DA CUICA” NO CALENDÁRIO OFICIAL DE EVENTOS E DATAS COMEMORATIVAS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.
Autor(es): VEREADORA LAURA CARNEIRO


A CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
D E C R E T A :
Art. 1º Fica alterada a Lei nº 5.146, de 7 de janeiro de 2010, para incluir no § 4º do art. 6º, a seguinte data comemorativa:
"O dia vinte e um de abril de cada ano como o Dia da Cuica."
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Plenário Teotônio Villela, 25 de abril de 2013.

LAURA CARNEIRO 
Vereadora

JUSTIFICATIVA
O dia 21 de abril de 2005 marcou a realização do 1º Encontro de Cuiqueiros - RJ, na quadra da G.R.E.S. União de Jacarepaguá, reunindo ritmistas de várias escolas, amantes da cuica, num ambiente de harmonia, confraternização e alegria, sem fins lucrativos e com entrada franca, por iniciativa de João da Cuica da GRES Portela, aliado a um seleto grupo de amigos igualmente cuiqueiros tais como: Hildebrando (Portela), Hélio Naval (Império Serrano), João Grande, Xanduca e Carlinhos (Mangueira), Reginaldo (Império Serrano), Hélio e Niquinho (Imperatriz Leopoldinense), Luiz (Caprichosos de Pilares), Sena (Arranco) etc. A escolha da data foi feita por aclamação, seja pela importância de Tiradentes para os ideais libertários em nosso país, seja pela facilidade proporcionada pelo feriado para o deslocamento dos músicos de vários pontos do país, seja pelos enredos que inspirou, a exemplo do antológico samba enredo “Exaltação a Tiradentes”, da GRES Império Serrano, em 1949, de autoria de Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado.

Desde então, é o maior encontro de cuiqueiros do mundo, reunindo ritmistas deste instrumento tão peculiar, vindos de outros Estados para esta confraternização entre mestres do instrumento que eternizou ritmistas como Boca de Ouro, Mestre Marçal, Ministrinho, Ovídio Brito, e Carlinhos da Cuica. Esta iniciativa repercutiu internacionalmente, tanto que no dia 8 de agosto de 2008 foi criada “Confederação de Cuiqueiros do Japão”, pela iniciativa da cuiqueira Kazumi Shimizu. Além disso, tem sido compartilhados vídeos e fotos de cuiqueiros na Alemanha, Suiça, Portugal, Espanha, Bélgica, Cuba, Argentina, Uruguai e Chile. O que demonstra a pujança e a importância deste instrumento.

Nas comemorações do “Dia Nacional do Samba” do ano passado, o “Trem do Samba” partiu como é de costume no dia 2 de dezembro, saiu da Central rumo à estação de Osvaldo Cruz repleta de sambistas, porém com um toque diferente: trazia um vagão exclusivo de cuiqueiros naquela sua 17ª edição. O Nono Encontro de Cuiqueiros – RJ foi realizado no dia 21 de abril de 2013, reunindo ritmistas de todo país com enorme sucesso, consagrando definitivamente o dia 21 de abril como o Dia da Cuica em nossa cidade, contribuindo dessa maneira para a valorização desse instrumento, estimulando a formação de novos cuiqueiros e impedindo com isso o fim dessa formidável tradição por falta de incentivos.

Pelas razões expostas, peço o apoio dos meus pares para a aprovação dessa matéria.
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domingo, 14 de abril de 2013

Dia da Cuíca

No próximo domingo, dia 21 de abril, iremos comemorar o dia da cuíca durante o 9º Encontro de Cuiqueiros do RJ, que se realizará na quadra da G.R.E.S. União de Jacarepaguá (Intendente Magalhães, 445 - Campinho) a partir das 13:00 horas. A entrada é gratuita e todos estão convidados à comparecer acompanhados de suas cuícas e familiares. A organização do evento, liderada pelo Sr. João Nepomuceno, pede encarecidamente que os presentes levem 1Kg de carne, linguiça ou frango para o tradicional churrasco. As bebidas serão vendidas no bar da quadra. Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone (21) 8672-8512. Viva a cuíca!!!

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terça-feira, 19 de março de 2013

Especial Cuícas: no roncar de uma tradição

Reportagem retrata momentos, curiosidades e grandes valores do instrumento que possui sua história como uma grandiosa essência


O DIA online por Rafael Arantes

Tradicional, histórico e especial: em apenas três palavras, podemos citar importantes valores de um incrível instrumento chamado cuíca. Presente desde os primórdios do samba, do partido alto ao samba-enredo, o instrumento sempre foi visto com um grau de importância além do normal. Com fabulosos ícones presentes nos degraus de sua história, a cuíca sempre contou com nomes de grande peso por sua caminhada na cultura carioca.

No samba, dois nomes ainda são lembrados e vistos com grande valia quando o assunto são os cuiqueiros de mais tradição. Zeca e Carlinhos da Cuíca são nomes que protagonizaram todo o decorrer das épocas e fases vividas neste hall de lembranças. Com uma alta versatilidade, a cuíca sempre se fez presente pelos cantos da Cidade Maravilhosa, e seus destaques mais antigos ainda são bastante lembrados. Veja um dos grandes mitos:

Profissionais do Carnaval exaltam importância

Um dos mais jovens mestres de bateria da atualidade, Wallan Amaral, da Vila Isabel, é sim um grande apaixonado pela história da cuíca. Criado, literalmente, dentro do ambiente do samba, o atual comandante da Swingueira de Noel revelou uma forte ligação da Azul e Branca com o instrumento, e ainda contou sua visão sobre o papel da peça no conjunto de uma bateria.

"Acho que a cuíca tem uma grande importância. Um toque bem marcado, bem compassado, indica perfeitamente o tempo entre as marcações de 1ª e 2ª, há todo um balanço. Na Vila, por exemplo, sempre existiu uma ligação muito forte com o instrumento. Há muitos anos atrás, chegamos a desfilar com 48 cuiqueiros na bateria. É muito especial", disse Wallan, que teve seu argumento de valorização do instrumento reforçado pela visão de Sergio Naidin, julgador de bateria do Grupo Especial do Carnaval carioca. "É um instrumento que sempre se fez presente, inclusive, antes mesmo das baterias de escola de samba ganharem tamanha proporção. Musicalmente falando, ele oferece um timbre a mais, uma outra referência. Além de possuir um belo balanço, a cuíca possui uma grande alternância harmônica, dá toda uma abordagem melódica ao ritmo. Sem contar, que é o instrumento que mais se assemelha à levada do partido alto. Penso que poderia haver uma maior exploração desta peça nas baterias, este instrumento possui toda uma sutileza musical que pode contribuir, e muito, para o embelezamento geral do conjunto", ressaltou Naidin.

Personalidade fez história

Das 40 décadas em que vem fazendo parte da história do Carnaval, Nilsinho Neon dedica-se à cuíca há exatos 26 anos. Muito conhecido por sua forte ligação com o instrumento, o atual líder dos cuiqueiros da Beija-Flor é o responsável pela ideia de utilizar a iluminação de neon durante as apresentações, fato ocorrido pela primeira vez em 1992, além de ser o criador de uma das maiores lendas quando fala-se da história da peça no Carnaval: A misteriosa 'Água de Cuíca'.

Famoso Nilsinho Neon é o grande idealizador da lendária 'Água de Cuíca'
Foto: Divulgação

"Em 1985 fiz uma viagem para Roma, com o Salgueiro, e lá tive uma ideia diferente para ganhar dinheiro. Dei o nome de 'Água de cuíca' para o líquido que usava para molhar o tecido antes de tocar. Na verdade, não há nada de especial, só coloquei uma identidade pessoal nela. Batizei o líquido, coloquei em um tubinho, e assim nasceu a água de cuíca(risos)", contou o Mito, que ainda revelou outra curiosidade do passado do instrumento.

"São muitas diferenças. Antigamente, não havia uma afinação definitiva, utilizavam uma pequena fogueira para esquentar o couro e chegar a um timbre que agradasse. Mas, a cada ano, o samba precisa evoluir. Não podemos ficar parados no tempo, precisamos nos adaptar", ressaltou.

Mercado em baixa

Com 46 anos de idade, Geraldo Cardoso vem se dedicando há mais de duas décadas a este instrumento tão especial. Com uma grande história construída dentro da Vila Isabel, o experiente cuiqueiro segue vivenciando diversas mudanças nos costumes dentro das baterias. Neste cenário desde 1987, o sambista ressaltou um fato que, infelizmente, se faz muito presente nos dias de hoje: A ausência de tocadores de cuíca, fato que vem sendo bastante notado e lamentado no Carnaval.


Geraldo construiu grandiosa história na ala de cuiqueiros da Vila Isabel
Foto: Divulgação

"Antigamente era um outro ritmo, uma pegada mais devagar, sem contar nas demais diferenças. Quando comecei, demorei dois anos para conseguir desfilar, tive que aguardar uma vaga em uma fila de espera. Havia um número maior de ritmistas, mas muita coisa aconteceu. Do pessoal de antigamente, muitos converteram suas religiões, outros se mudaram, e alguns até faleceram. É preciso uma renovação. Tocar cuíca não é tão simples, é necessário uma dedicação a mais e isso, às vezes, acaba afastando algumas pessoas que não possuem uma grande paciência de aprendizado. É preciso perseverança, tem que ter vontade e ir até o final", disse Geraldo, que ainda comentou uma curiosidade do posicionamento estratégico dos cuiqueiros durante os desfiles.

"O instrumento pede que a gente esteja destacado. É preciso estarmos na primeira ou na última fila. Se viermos atrás das peças agudas, ou no meio da bateria, o som da cuíca acabará sendo abafado. É um instrumento especial, é preciso ser estudado", concluiu.

Inovações rítmicas

Desfilante há apenas três anos, Luís Oliveira, mais conhecido no Salgueiro como Luís Percussa, já vivenciou momentos distintos dentro da ala de cuiqueiros da Vermelho e Branco. Já acostumado com a sustentação da levada básica durante o desfile, o sambista participou da novidade realizada pelos ritmistas salgueirenses no último Carnaval.

Luís Percussa admira ideia das inovações rítmicas para o instrumento
Foto: Divulgação

"A ideia partiu do mestre Maurão, da Rocinha. Como não foi utilizada lá, ele acabou passando para o Marcão, que gostou e nos passou o projeto. Com muito ensaio e dedicação, conseguimos desempenhar a ideia de maneira perfeita e levar para a Sapucaí", comentou Luís, ao falar sobre os desenhos rítmicos na levada da cuíca durante a segunda parte do samba. No desfile deste ano, os cuiqueiros da Furiosa levaram para a Avenida um toque diferente em alguns momentos cruciais do samba-enredo, fato que foi exaltado pelo ritmista.

"Como não somos um grupo tão denso, não houve uma percepção muito grande, mas esperamos seguir com o projeto. É uma novidade muito válida, desde que esteja encaixada dentro do samba. Vejo a cuíca como um instrumento de sustentação, mas também é preciso inovar", projetou.

Grupo unido e fortificado

Outra inovação notada mais recentemente vem do outro lado da cidade. Em Madureira, os integrantes da ala de cuícas da bateria do Império Serrano também possuem um costume diferente dos demais. Há alguns anos, os sambistas resolveram marcar constantes encontros entre si, e o fato foi exaltado por Rafael Tavares, ritmista da Sinfônica do Samba há quatro anos.

Cuiqueiros do Império Serrano valorizam grande integração do grupo
Foto: Divulgação

"Faz muita diferença, é claro. Nós somos uma família, os Cuiqueiros da Sinfônica formam uma grande família. A primeira grande escola que desfilei foi o Império, e lá eu conheci grandes pessoas, grandes amigos. Tenho certeza que a nossa união é sem igual, não tem como comparar, e todos deveriam ser assim. Em algumas outras agremiações que já desfilei, não existe a mesma união, e isso é errado. É preciso valorizar o instrumento, o grupo que trabalha junto. A cuíca é uma peça diferenciada, é preciso vê-la com outros olhos", disse Rafael, que ainda elogiou a grande união dos componentes imperiais. " Nos entendemos pelo olhar, isso já se tornou um ritual", concluiu.

Diante de um instrumento tão tradicional, o estilo mais contemporâneo também vem influenciando algumas transformações. Não são somente danças, coreografias e festejos constantes que seguem modulando um novo cenário entre os cuiqueiros cariocas. A grande essência do instrumento na história do samba vem se mostrando com grande valia para a sustentação deste grande ícone musical para os novos tempos.

Zeca da Cuíca é um dos grandes nomes na história do tradicional instrumento
Foto: Arquivo
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domingo, 17 de março de 2013

Bloco das Cuícas 2012

A 17ª edição do Trem do Samba contou, pela primeira vez, com a participação do Bloco das Cuícas num vagão especialmente reservado aos cuiqueiros. O vídeo a seguir, produzido por Zezé Fonseca, registra momentos deste significativo acontecimento para a história da "chorona", enfatizado neste belo depoimento da própria Zezé publicado como descrição do vídeo:

"Nunca foi tão prazeroso fazer um vídeo e participar de um evento no meio dos verdadeiros cobras da cuíca do Rio de Janeiro. Desde a concentração no "Balança mas não cai", até a chegada em Osvaldo Cruz, eles deram um verdadeiro show no Trem do Samba 2012, mostrando que o ronco da cuíca faz o chamado no samba. Parabéns a todos os participantes e que venha a 18ª edição do evento".

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Duas Cocas Zero e a conta com Carlinhos da Cuíca [por Mauro Ventura]

Carlinhos da Cuica, um verdadeiro ícone do nosso instrumento, concedeu recentemente uma entrevista ao jornalista Mauro Ventura, que gentilmente autorizou sua publicação aqui no blog. Obrigado Mauro, o Carlinhos merece!

Carlinhos da Cuíca - O ritmista que desfilou em 37 escolas num só carnaval
e abandonou a Avenida por problemas de vista planeja voltar à Sapucaí

RIO — Ao ouvir o pedido de entrevista, Carlinhos da Cuíca diz: “Até que enfim vocês se lembraram de mim.” Tinha época em que bastava ele pisar na Marquês de Sapucaí para ser cercado pela imprensa, interessada em registrar um dos cuiqueiros mais famosos da história do carnaval carioca, com seu sorriso contagiante, seu talento como ritmista, suas aparições ao lado de nomes como Luma de Oliveira e Luiza Brunet e sua disposição em desfilar. Salgueirense, um dos fundadores da Tradição, ele abandonou a Avenida em 2002, por problemas na vista. Mas não perde um carnaval pela TV.

Fundador da Academia das Cuícas, dá curso num espaço no Pagode da Tia Doca, em Madureira, onde toca aos domingos, há 35 anos. As aulas individuais, inclusive para alunos estrangeiros, são em sua casa (telefones 2475-8387 e 9656-4931), num apartamento de quarto e sala num conjunto habitacional em Irajá. “Em todas as baterias tem aluno meu”, diz ele, de 56 anos, que em 1989 participou do filme “Prisioneiro do Rio”, de Lech Majewski, sobre Ronald Biggs, um dos protagonistas do assalto ao trem pagador inglês, que se radicou na cidade. No filme, Biggs era interpretado por Paul Freeman. “Dei aula de cuíca para ele. E para o filho do Biggs, Mike, da Turma do Balão Mágico, também. 

Nascido em Salvador, veio para o Rio aos 12 anos, tentar ser músico. “O Rio é a capital do samba. Salvador é a terra do axé.” Foi trabalhar como porteiro num prédio na Tijuca, onde ficou 17 anos. “Era o jeito de ter onde morar.” Fez curso de pintor de parede no Senac. “Sou aposentado como pintor. No samba, hoje você ganha, amanhã, não. A música é muito ingrata.” Pintou muito apartamento e loja. “Na Tia Doca, me enturmei com os sambistas”, diz ele, que já tocou com Alcione, João Nogueira, Agepê, Jovelina Pérola Negra, Beth Carvalho, Simone, Dudu Nobre, Sargentelli.

REVISTA O GLOBO: Como a cuíca surgiu na sua vida?

CARLINHOS DA CUICA: Aprendi aos 10 anos, treinando sozinho, com uma cuíca que meu pai me deu. Em Salvador, eu via o carnaval do Rio na TV, ouvia no rádio e me apaixonei pelo som, pelo ronco da cuíca. Toco todos os instrumentos de percussão, mas gosto mesmo é da cuíca. Tenho mais de 20. Ela é que dá um suingue e um molho à bateria.

Por que você criou a Academia das Cuícas?

No fim dos anos 1990, a cuíca entrou em extinção. A maioria dos cuiqueiros começou a morrer. Aí fundei a academia, na minha casa, em 1999, para não deixar a tradição morrer. Falei na ocasião à imprensa: “Enquanto existir Carlinhos da Cuíca a cuíca não vai morrer.” Quem me deu esse apelido (seu nome é Carlos Gonçalves da Silva) foi Mestre Marçal. Eu gravava sempre com ele. Hoje a situação da cuíca melhorou, estão surgindo muitos jovens, inclusive mulheres, como Renata Coroado, que foi minha primeira aluna. Tem a Marli, o Zé Mauro, o Carlos Pinajé, o Janderson. Todos foram meus alunos.

No carnaval de 1989, você desfilou em 37 escolas. Como foi?

Eu quis bater meu recorde anterior, de 35. Nesse ano, desfilei em 37 escolas nos quatro dias de carnaval, sábado, domingo, segunda e terça, nos três grupos principais (à época 1 A, 1 B e 2 A). E em mais duas no Desfile das Campeãs. Cheguei a alugar por uma semana dois quartos numa hospedaria perto do Sambódromo. Um só não dava para tanta fantasia. Eu quase não dormia, só cochilava. Chegava ao fim de um desfile, saía, voltava por dentro dos camarotes com uma credencial arrumada por um amigo, trocava a fantasia ali mesmo e começava de novo. Se morresse ali, morreria feliz. Eu vinha me preparando três meses antes. Fiz check up, me alimentei bem, caminhava bastante. Andava da Tijuca a Copacabana. Uma apresentadora comentou: “Olha o Carlinhos da Cuíca aí de novo, sai em tudo que é escola, se passar um bloquinho ele vai atrás.” Fiquei conhecido como o maratonista da Avenida.

Você parou de desfilar por causa da vista. O que aconteceu?

Foi em 2001. Fui dormir bem e acordei sem enxergar. Levei um susto. Um amigo me levou ao Souza Aguiar. Fizeram exames e descobriram que eu tinha diabetes. Não sabia, foi uma surpresa. Perdi a visão do olho direito e fiquei só com 10% do esquerdo. Dali, me transferiram para o Pedro Ernesto. Mas lá você passa na mão de muito acadêmico, não é atendido, dizem “volta amanhã”, o hospital entra em greve. A sorte é que uma amiga, Magda, trabalha no Centro Oftalmológico de Ipanema, do doutor Juan, que me trata de graça. Hoje tenho 80% da visão no olho esquerdo. Voltei a ler e a ver TV, saio sozinho, ando uma hora e meia por dia. Não entrego os pontos. Senão, você já era.

Não sente saudades da Avenida?

Desfilei pela primeira vez em 1972, na Unidos da Tijuca. E me despedi do Sambódromo em 2002, saindo em cinco escolas. Mas recebi convite de São Paulo e desfilei em três escolas paulistanas, em 2003, 2004 e 2005. Eu me sinto meio triste porque as escolas se esquecem dos ritmistas que trouxeram alegria. Não convidam você para sair. Mas ainda vou fazer uma surpresa e voltar para a Sapucaí. Poderei vir no chão ou em cima de um carro alegórico. E esse dia não está muito longe.

Por Mauro Ventura - mventura@oglobo.com.br
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cuiqueiros da Ribalta [por Luis Turiba]

Cuiqueiro já foi uma raça rítmica em extinção no início deste século. A rapaziada que se chegava às escolas de samba só queria saber de tocar tamborim. Mais fácil, mais leve, mais prático. Os mais velhos estavam partindo ou, como o Dr. da Cuíca e o Portela, se aposentando. Foi necessário que algumas agremiações fizessem “escolinhas” para a garotada aprender a tocar a danada da cuíca.

Agonizou mas não morreu. Cuiqueiros são sobreviventes proativos que sustentam a “cama” dessas verdadeiras orquestras percussivas, as superbaterias. Os cuiqueiros, então, tornaram-se os maiores tiradores de onda do Carnaval carioca. Desfilam sorrindo, fazendo caretas e são quase todos coroas como eu. Não é à toa que as rainhas adoram provocá-los, fazendo-os ajoelhar-se diante de seus requebros.

Também pudera: a cuíca é, provavelmente, o único instrumento do mundo tocado às escondidas. Ninguém vê, mas todos ouvem e sentem. Tocá-la até que é fácil, mas ao mesmo tempo, é muito complexo. Requer tempo, atenção, agilidade, equilíbrio, muita manha e precisão.

Aula rápida: os dedos de uma das mãos deslizam segurando um gorgurão molhado por uma vareta de bambu que fica escondida dentro do bojo do instrumento. A outra mão fica por fora, apertando o couro, com toques firmes, rápidos e suaves. A mão do gorgurão molhado dá o impulso “Y” combinado com uma pressão “X”. Cria-se sons graves e agudos. O aperto exterior com o dedo cata-piolho comanda as variações: o tal tu-tum-tu-tu. Daí começa o leva-e-trás, o fuqui-fuqui.
O corpo da cuíca visto por detrás lembra a turbina de um caça supersônico de guerra. Mas cuíca é instrumento da paz. Seus princípios aerodinâmicos são complexos. A boca larga recebe um couro dobrado num arco de madeira (usa-se também de metal). Cada cuíca recebe preparações especiais. Couros, por exemplo, tomam banho de sol para pegar melhor afinação.
Algumas baterias de escolas de samba as valorizam, como a São Clemente que, ano passado, desfilou com 34 cuícas em três fileiras. A cuicaria da escola de Botafogo chega a ter um maestro — o polêmico Stalone — que criou na prática uma espécie de partitura de acompanhamento do samba da escola. Cuíca é instrumento manhoso: apertada e afrouxada a cada tocada, tem seu ponto G. Atualmente, todas as escolas possuem seus naipes de cuícas. Até versos de amor a cuíca já recebeu. Foi no poema “Minha Cuíca”, de meu livro “Cadê?”, dedicado a Roberto Salvatore.
*texto de Luis Turiba, jornalista poeta e cuiqueiro, publicado em fevereiro de 2013 no jornal O DIA ONLINE.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Cuíca sob medida: considerações sobre o diâmetro do instrumento


Sempre tive curiosidade de saber porque as cuícas são medidas em polegadas e não em centímetros, unidade de medida mais comum no Brasil. A razão, segundo informação que obtive do Sr. Humberto, proprietário da GOPE, é que todo tipo de tambor fabricado na indústria nacional recebe essa base de medida por influência das primeiras baterias que chegaram no país, na década de 1940, importadas dos Estados Unidos, onde a unidade de medida tradicional é justamente a polegada.

Com o passar do tempo, os revendedores das baterias norte-americanas se habituaram a medir os tambores assim no Brasil. E mesmo depois de criar suas próprias marcas e fabricar suas próprias baterias, como foi o caso do Sr. Humberto com a GOPE, produzindo inclusive a linha de instrumentos da música brasileira, como a cuíca, mantiveram a polegada como medida padrão.

A polegada é representada por este símbolo " e as medidas de cuíca mais comuns são 8", 9½" e 10", que correspondem respectivamente às cuícas da foto acima. A medida de 9" também tem sido bastante utilizada e existem também cuícas de 6" e 12" disponíveis no mercado, mas que não são de uso muito comum entre os cuiqueiros mais experientes. E há também cuícas fora desses padrões, geralmente mais antigas, fabricadas de forma mais artesanal, como as preciosidades do falecido Arnaldo, célebre cuiqueiro do Império Serrano, considerado por muitos o melhor fabricante de cuíca de todos os tempos.


O tamanho da cuíca determina questões como o peso do instrumento, por exemplo. Em termos de sonoridade, as diferentes medidas influenciam principalmente na variedade de notas possíveis de serem emitidas. Quanto maior a cuíca, maior a variedade de notas entre graves, médios e agudos que se pode tocar. Fazendo então uma comparação com o piano, uma cuíca pequena seria como um piano com poucas teclas, enquanto uma cuíca grande seria como um piano com um teclado um pouco maior. Mas é claro que a variedade de notas disponíveis em uma cuíca depende, sobretudo, da habilidade de que toca em extraí-las.
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