Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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sábado, 16 de julho de 2011

Estudo da Cuica (por J. Muniz Jr.)

Há algumas semanas tive a imensa honra de conhecer um grande baluarte do samba, o Sr. Djalma Sabiá, fundador da Acadêmicos do Salgueiro e autor de sambas-enredo memoráveis da vermelho e branco. Nascido no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1925, na altura de seus 86 anos, o Sr. Djalma impressiona pela quantidade de lembranças que ainda guarda na memória. Mas o que me deixou mais emocionado durante esse encontro foi perceber o amor e respeito que ele tem pelo samba. Em sua modesta residência, ele preserva um verdadeiro tesouro com fotos e diversos registros sobre o Salgueiro e o samba de maneira geral. As paredes são tomadas por esses documentos, que guardam histórias maravilhosas de se ouvir, contadas por este senhor que viu tudo aquilo acontecer. A generosidade com que fui recebido por Sr. Djalma em seu grande arquivo/residência me deixou numa dívida eterna com ele, que me emprestou um livro intitulado Do batuque à escola de samba, publicado em 1976, cujo autor é *J. Muniz Jr., outro grande sambista, além de jornalista, e que escreveu neste livro um capítulo chamado Estudo da Cuica. O texto é um pouco grande pra colocar em apenas uma postagem, então, separei alguns trechos que virão em postagens futuras. 

Estudo da Cuica

Existe uma afirmativa de que a cuica é de origem oriental, e por ser um instrumento utilizado pelo povo durante as festividades típicas, acabou espalhando-se por toda a Europa. O interessante é que a sua forma sempre foi variada, inclusive o seu nome, pois é chamada ronca em Portugal (...) pouti-pout, em Nápoles (Itália); buha, na Romênia; bukat, na Tchecolslováquia; rum-motopi, na Alemanha, e rommel-pot, na Holanda. Consta que na Romênia, o instrumento servia para animar os festejos natalinos, inclusive na Venezuela, onde é chamado furruco. Também já foi vista na Argélia, Cuba, em Luisiana (Estados Unidos) e na Argentina. No batuque de Angola, a puíta era utilizada como um tambor de fricção, sendo ainda chamada lukombey, no Congo. E com a vinda do elemento africano para o Brasil, foi recebendo várias denominações, conforme a região que ia sendo introduzida. Por exemplo: “tambor-de-onça”, no Maranhão; “roncador”, no Pará; “puíta”, no Ceará; “fungador”, “socador”, “boi” e “porca”, no Nordeste e ainda “puíta” e “cuica”, no Rio de Janeiro e noutras regiões do Centro-Sul. Ladislau Batalha já descreveu a puíta como sendo um tambor indígena, formado por um pedaço de tronco grosso, oco, tendo uma das bases coberta por uma pele de animal, bem ressequida e furada no meio e que “a atravessam por um pequeno atilho também de couro, e atalham-lhe por dentro um pau áspero. Produzem uma espécie de troar monótono e feio, correndo os dedos úmidos pela parte interior que, assim manejado, imprime a pele um movimento vibratório. Sobre esse tipo constroem outros instrumentos que produzem roncos mais ou menos agudos”. (...) Embora os indígenas conhecessem uma espécie de puíta, (...) foi com o africano que o instrumento se projetou, pois estava sempre presente nos batuques das senzalas e nos terreiros das casas grandes, passando depois para os foguedos populares e carnavalescos por todo o território brasileiro. Entretanto, a cuica somente veio a popularizar-se em nosso país a partir de 1915, quando passou a ser adotada pelos cordões carnavalescos e grupamentos, aparecendo, posteriormente, na Praça Onze junto com as “escolas de samba”, em forma de barrica, com a vareta presa por dentro do couro, quando o batuqueiro, que a levava debaixo do braço, acompanhava a cadência do samba com um som bastante rouco. (...) A versatilidade dos brasileiros fez com que o instrumento, que apenas produzia um ronco soturno, chegasse ao ponto de soltar notas agudas e graves, e até de fazer solos de músicas populares e clássicas. (...) foi no Brasil que a cuica se adaptou melhor, adquirindo uma sonoridade bem variada, alcançando uma perfeição que não obteve em nenhum outro país. (...) E por se tratar de um instrumento curioso (até muito melindroso), a cuica mereceu de nossa parte um estudo mais acurado, pois no tempo em que o autor desfilava em escolas de samba, ela teve, também a minha preferência, e embora eu não tenha me tornado nenhum mestre da especialidade, cheguei a conhecê-la muito bem, pois a primeira que tive também era de barrica e inclusive foi montada pelas minhas próprias mãos.
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*J. Muniz Jr. – Jornalista e escritor brasileiro nascido em Penedo, AL, em 1933, e radicado em Santos, SP, desde 1939. Sambista ativo, ex-ritmista, passista, mestre-sala, carnavalesco e dirigente, dedicou-se, a partir de 1957, a promover o intercâmbio entre o samba de sua cidade e o do Rio de Janeiro. Assim, participou de congressos e articulações que levaram à realização, em Santos, de eventos como o Primeiro Simpósio Nacional do Samba (1966) e o Primeiro Festival de Samba (1970). Ex-conselheiro da antiga União das Escolas de Samba do Estado de São Paulo, publicou, assinando-se J. Muniz Jr., vários livros sobre o universo dos sambistas, entre os quais Do batuque à escola de samba e Sambistas imortais, ambos de 1976. Fonte: Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana (Nei Lopes)
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7 comentários:

  1. vivendo e aprendendo, salve a cuica salve o músico brasileiro, salve o samba!!!!!!!

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  2. “CLUBE DO SAMBA DE AMERICANA”
    ¨Baluarte do Samba de Raíz e da Cultura Popular de Nossa Gente
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    aguardo um contato ,

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  4. Salve Salve a Nobreza da Cuíca!!!
    abraços

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  5. Caros amigos puxadores de cuíca:
    Em uma outra versão sobre a historia da cuíca, alguns anos atrás me deliciei com esta historia que acredito que veja a verdade. Em uma cidade chamada “Djibuti”(hoje e um pais) havia uma tribo de negros denominada de somalis e afar, eles realizavam um culto, onde existia um instrumento chamado”kuìtá” era nos mesmo moldes de nossa cuíca, porem era um assentamento de orìsá denominado de barä(exu), e esse instrumento era feita de uma arvore oca não havia madeira dentro só casca chamada de catombè, onde era colocada a pele do animal sacrificado no ritual e colocado duas hastes de madeira em seu interior, ali era o assentamento do abian( filho de santo), com a chegada do homem branco e o inicio da escravidão, alguns somalis e afar vieram para trabalhar no interior de Minas Gerais, para se manter o culto e ritual, pois não existe catombè no Brasil, eles passaram a usar os barris de rum e/ou azeitona para fazer o Kuìtá, onde foi chamado de cuíca, por mais de um século, isso fica enclausurado pelos escravos pois, os senhores de engenho nunca admitiram isso em suas terras, com o fim da escravidão começaram a surgir alguns centros espíritas em MG logo o kuita e esquecido lembrado alguns anos após por causa de sua sonoridade e ate e usado em grandes encontros de cultura afro-brasileira, como carnaval, samba, tambor de onça e etc...

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  6. Dr Kuika! Sempre com acréscimos interessantes!! Abç amigo!

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  7. obrigado amigo Paulinho Bicolor,essa história me foi passada pelo Sr.Germano(in-memoriun) cuíqueiro dos bons onde sempre falava, que cuiqueiro tem que ter postura e punho, pois as cuícas e a comissão de frente da bateria. abraços

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