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Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

1º Workshop da Cuica [resultados]

Para quem não pôde comparecer ao 1º Workshop da Cuica, seguem aqui alguns registros do evento e um pequeno resumo dos pontos de reflexão apresentados na mesa de debate.


Sob o comando do jornalista Luis Carlos Magalhães, que gentilmente se dispôs para a função de moderador da mesa de debates, discutimos algumas questões relacionadas à presença da cuica na bateria das escolas de samba. Essas questões foram expostas sob o ponto de vista dos mestres de bateria, representados pelos ilustres mestres Ciça e Paulinho Botelho, e também sob o ponto de vista dos cuiqueiros, representados por Ricardo Santana (responsável pelo naipe de cuica do Salgueiro) e por Nilton Carvalho (responsável pelo curso de cuica do projeto Tamborim Sensação). Com o objetivo de "confrontar", no bom sentido da palavra, a diversidade de ideias e opiniões, o debate girou em torno de três questões principais, sobre as quais se falou resumidamente o seguinte: 

1) Posicionamento da cuica na bateria - Este primeiro tema tratou do posicionamento da cuica quando feito na frente, no meio ou no fundo da bateria. Segundo os mestres, o que determina a posição do naipe de cuica é a qualidade dos instrumentistas. Se o naipe é formado por bons cuiqueiros, capazes de fazer com que as cuicas sirvam como referência ao mestre para a manutenção do andamento, as cuicas certamente estarão na primeira fileira da bateria. Mas se o naipe não possui uma boa consistência, podendo até mesmo atrapalhar o mestre na regência da bateria, as cuicas fatalmente serão posicionadas mais ao fundo.

2) Relação entre cuiqueiro e escola - Este tema buscou abordar alguns dilemas existentes na relação entre os cuiqueiros e as escolas de samba. Os cuiqueiros chamaram atenção para o fato de a cuica ser um instrumento particular, isto é, que cada cuiqueiro utiliza a sua própria cuica nos ensaios e desfiles, ao contrário dos demais instrumentos que pertencem e são de responsabilidade das escolas de samba. Isso faz com que os cuiqueiros sejam obrigados a bancar os custos de manutenção da cuica com seus próprios recursos, uma despesa alta que poderia ser amenizada caso, por exemplo, as escolas fornecessem o couro para os cuiqueiros utilizarem em suas cuicas. As escolas e os mestres de bateria, por sua vez, argumentam que o comportamento do cuiqueiro, de um modo geral, não se faz da maneira ideal. A principal reclamação é a ausência dos cuiqueiros nos ensaios da bateria, ou seja, a falta de comprometimento do instrumentista com a escola. Isso se deve talvez à quantidade excessiva de escolas que boa parte dos cuiqueiros procuram desfilar a cada carnaval, o que torna praticamente impossível participar regularmente dos ensaios de todas as escolas onde pretendem desfilar.

3) Tipos de marcação: livre X padronizada - O terceiro e último tema debatido entre os mestres e os cuiqueiros foi sobre as diferenças entre o toque da cuica ser feito de maneira livre por cada cuiqueiro ou padronizada entre todos os integrantes do naipe. Parece que sobre essa questão os mestres de bateria e os cuiqueiros compartilham da mesma opinião: favorável à padronização da marcação. Entende-se que, se todos os cuiqueiros do naipe executarem rigorosamente a mesma marcação, haverá maior definição no efeito sonoro das cuicas, maior potência de volume e o naipe soará mais harmonioso.


Acredito que a conclusão que se pode tirar dessas reflexões seja a constatação de que esses temas formam um circulo vicioso cujo eixo gira em torno do mau comportamento dos cuiqueiros. É claro que não podemos generalizar, pois nem todos se comportam mal. Mas se queremos ter apoio das escolas, ganhar couro e outros materiais que nos ajudem a reduzir os custos de manutenção dos nossos instrumentos, devemos todos agir de maneira que os mestres de bateria nos prestigiem e reivindiquem por nós o apoio que necessitamos junto à presidência e diretoria das escolas de samba. Se desejamos manter o tradicional posicionamento das cuicas na primeira fileira da bateria, devemos todos nos aprimorar musicalmente e assim fazer com que os mestres confiem na qualidade dos seus cuiqueiros. A tendência pela padronização das marcações é um esforço neste sentido, mas seu resultado apenas surtirá efeito se todos nós compreendermos que a bateria da escola de samba é um organismo coletivo onde a individualidade deve ter um papel secundário.


Mas para comprovar que também devemos dar atenção para a cuica em performances individuais, o encerramento do evento contou com a participação especial do grande Indio da Cuica. Demonstrando sua impressionante habilidade em executar melodias com a "chorona", Indio apresentou um repertório formado por músicas de sua autoria e também alguns clássicos da música popular brasileira, fechando o 1º Workshop da Cuica com chave de ouro.  

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Um comentário:

  1. Fui ao Workshop e o que ouvi de dois dos Mestres de bateria que menos simpatizam com o instrumento não me surpreendeu. O Ciça esse ano pediu 16 cuícas na União da Ilha e o Paulinho nunca foi muito fã mesmo e fica tentando justificar dizendo que cuiqueiro não tem compromisso e outras coisas mais. Ritmistas e falo em geral, terão o comprometimento que eles querem o dia que forem tratados com respeito e dignidade. Eu não dependo de nada das Escolas de Samba, vou porque gosto e quero, mas a maioria não é assim, e na maioria esmagadora, não tem nem um copo de água para o ritmista beber após mais de uma hora de ensaio. Eles não tem poder de negociação com as Escolas e o ritmista é quem sofre com essa situação. Alegam que ritmista sai de graça, de graça por que? e o dinheiro de passagem, gasolina, lanche, água e etc que gastamos durante 8 meses do ano? Sinceramente, hoje vale mais a pena sair em ala de comunidade, só começa a ensaiar depois da escolha de samba e ensaia uma vez por semana. Esse é meu ponto de vista!

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