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Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

A evolução sonora da cuíca

Assim como os demais instrumentos típicos do samba, a cuíca sofreu muitas modificações desde as suas primeiras inserções em discos e agremiações carnavalescas. Este processo envolveu transformações em todos os seus aspectos, impactando diretamente sua sonoridade, que mudou radicalmente num curto espaço de tempo. Duas questões principais explicam a razão de tal mudança: a primeira diz respeito à técnica de execução e a segunda à fabricação do instrumento. 

Com relação à técnica de execução, no vídeo abaixo vemos um cuiqueiro tocando de uma forma muito comum no passado, que consistia no uso exclusivo de uma das mãos para friccionar o gambito, sem pressionar a pele por fora com a outra mão. Logo, os sons obtidos ressoavam invariavelmente numa região de frequências mais baixa do que seu padrão sonoro atual.  


A sonoridade da cuíca também se modificou em função de inovações no seu processo de fabricação. Os primeiros modelos do instrumento tinham o corpo de madeira, o que imprimia ao timbre uma textura bem menos brilhante do que temos hoje com diferentes tipos de metal. O método de empachamento também era bastante diferente do atual, principalmente em relação à maneira de fixar o gambito no couro, que se dava de modo a não permitir que a pele vibrasse com muita intensidade. Além disso, as primeiras cuícas não possuíam as tarraxas que hoje nos permitem afinar o instrumento. A pele era presa com tachinhas e o método de afinação se dava ao redor de uma fogueira. O calor emitido pelo fogo esticava o couro, mas logo a cuíca voltava a ficar frouxa. Com a adaptação das tarraxas, ficou possível esticar o couro com mais rigidez, bem como manter o instrumento afinado por mais tempo. 

Tudo isso contribui para o desenvolvimento da sonoridade que extraímos da cuíca atualmente. A título de ilustração, seguem abaixo três registros que exemplificam o desenrolar deste processo entre as décadas de 1930 e 1950. 

O primeiro exemplo, A Cuíca tá Roncando, é uma composição de Raul Torres gravada pelo próprio autor, em 1934, e destaca a sonoridade grave que o instrumento tinha naquela época, parecendo de fato com um "ronco".


O segundo exemplo, Iaiá, Ioiô e a Cuíca, originalmente lançado em 1940, é uma composição de Fausto Vasconcelos e Felisberto Martins interpretada de Nena Robledo e J. B. de Carvalho. Percebe-se aí que o cuiqueiro pressiona a pele da cuíca por fora para produzir sons médio-agudos, conforme fazemos atualmente.



Por fim, outra versão de A Cuica tá Roncando, mas dessa vez interpretada pelo multi-instrumentista Mário Gennari Filho, em gravação de 1952. Neste caso, percebe-se que a sonoridade do instrumento já está bem próxima de como o escutamos hoje em dia. Isto nos permite concluir que sua sonoridade tenha atingido, já na década de 1950, o caráter estético que ainda se mantém como padrão nos dias atuais.

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7 comentários:

  1. Putz que matéria legal Paulinho! Parabéns! Chega ater um toque jornalístico!

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  2. Olá Paulinho.Muito interessante esta matéria. Parabéns.
    Paulinho diga-me, porque o executante deste instrumento (Cuíca) é chamado de cuiqueiro e não de CUIQUINISTA, já que as palavras com finas (ISTA)normalmente usado para o praticante (ex. pianista, baterista, violonista, cavaquinista) e muitos outros. E o final (EIRO) normalmente usado para designar o fabricante de algo. (Ex. Padeiro, Tintureiro,carpinteiro, confeiteiro).
    Paulinho,por favor me explique.

    Gratos.

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  3. Boa pergunta Islan!

    Não faço a menor ideia do porquê de quem toca cuíca ser chamado de cuiqueiro e não de "cuiquinista", como vc sugeriu.

    Mas talvez seja pelo mesmo motivo de quem toca viola ser chamado de violeiro e não de "violista" e de quem toca sanfona ser o sanfoneiro. Já são dois exemplos pra gente ver que a palavra CUIQUEIRO não é tão fora do comum assim.

    Além do mais, existem outras nomenclaturas presentes no universo do samba, do qual a cuíca é um elemento natural, que também terminam em EIRO: partideiro, macumbeiro, pagodeiro, batuqueiro...

    Enfim, acho que não existe uma razão específica para responder essa questão. Simplesmente é isso, quem toca cuíca é cuiqueiro. rs!

    Espero ter ajudado, mas vou ficar atento a isso e se pintar alguma novidade, te aviso.

    Valeu Islan! Fique à vontade e participe sempre que quiser.

    Grande abraço meu véio!

    Paulinho

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  4. Olá pessoal,
    Adorei o post. Sou um cuiqueiro amador e quero comprar um microfone para minha cuíca. Alguém tem sugestões de um bom custo benefício?

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  5. Salve Felipe!!

    Procure por microfones para instrumentos de percussão. De preferência com garra, para você prender no aro da cuíca. Esse aqui, por exemplo, é uma boa opção:
    http://www.midihouse.com/microfones/akg_c_418.htm

    Forte abraço!!

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