Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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sábado, 30 de abril de 2011

Blog do Cuica Play


Conheci o Blog do Cuica Play a um tempinho e procuro sempre acompanhar as postagens mais recentes. No dia 31 de março o Luciano - responsável pelo blog - publicou uma postagem sobre o Theo da Cuica e isso me instigou a procurar mais postagens sobre outros cuiqueiros no arquivo do blog. É que o Blog do Cuica Play, apesar do nome, não fala apenas sobre cuica, mas sim sobre percussão de uma maneira geral. As postagens são ricas em fotos, vídeos, músicas e textos, sempre enaltecendo valores da música brasileira e internacional, que dificilmente receberiam a atenção na grande mídia como neste trabalho realizado pelo Luciano. Além da ótima postagem sobre o Theo, encontrei também uma sobre o sr. Zeca da Cuica, outra sobre um jovem sambista de São Paulo chamado Tito Amorim e uma sobre o grande Ovídio Brito. Bom, mas pra começar, acho legal que todos vejam a postagem sobre o próprio Luciano Cuica Play e conheçam um pouco mais sobre este camarada que faz esse belo trabalho em nome da percussão e de todos os percussionistas. Seguem as postagens:


Dêem uma olhada também em tudo do blog porque tem muita coisa legal! Por exemplo, a postagem sobre o maestro Luciano Perrone, já citado aqui algumas vezes. Tem outra muito bacana também sobre o Don Chacal, que para minha surpresa, aparece tocando cuica numa foto. Sabia que ele era um grande percussionista, mas que também tocava cuica, não. Infelizmente o Don Chacal faleceu a pouco tempo e merece muitas homenagens como essa do Cuica Play.

É isso pessoal, tá aí a dica. Aproveitem!

sábado, 23 de abril de 2011

Vídeo 7 - Molha o pano

Por indicação do amigo Sandor Buys, este post traz imagens preciosas da cantora Aurora Miranda e o Regional do Benedito Lacerda interpretando mais uma música relacionada à cuica: Molha o Pano, da autoria de Getúlio Marinho e Cândido Vasconcelos. Encontrei um texto muito bacana sobre Getúlio Marinho, que foi um personagem importante na história do samba, lá no início de tudo, mas é pouco citado por aí. Vale a pena ler! Quanto ao Cândido Vasconcelos, procurei e não encontrei nada. Mas achei uma descrição da cena com a Aurora Miranda que diz o seguinte:

Aurora, a irmã também famosa de Carmen Miranda, aos 20 anos de idade teve dois números cantados, um com Carmen, no filme brasileiro "Alô Alô Carnaval" produzido pela dupla Waldow/Cinédia em 1935, lançado em 1936. Aqui, a graciosa apresentação de seu número nesta produção com o samba "Molha o Pano", de Getúlio Marinho e Cândido Vasconcelos com acompanhamento do Grupo Regional de Benedito Lacerda. Um raro documento histórico da época em que o samba se popularizava. Bom divertimento. 


Molha o Pano
(Getúlio Marinho e Cândido Vasconcelos)

Molha o pano
Pega na cuica
Puxa certo e com cadência
Veja o samba como fica

Fui num pagode
A família deu o não
Aqui não se quer cuica
Porque não é barracão

Fiquei sentida
Coragem! Gritou meu mano
Quem é rico paga orquestra
E quem é pobre molha o pano

Refrão

É um abuso
E por demais autoridade
Fazer pouco em quem é pobre
Só por ter felicidade

Não fiz barulho
Porque me julgo decente

Tratei de molhar o pano
E gritei “vamos em frente!”


É interessante observar que a música publicada na última postagem, Como se faz uma cuica, traz um verso onde se diz que "o piano é de nobre e o instrumento de pobre é a cuica", e agora vemos ser dito que "quem é rico paga orquestra e quem é pobre molha o pano". Antes que alguém se sinta ofendido, acredito que esses versos não tenham sido criados com a intenção de inferiorizar o nosso estimado instrumento musical e nem a nós, seus instrumentistas. Essa polaridade entre o que é de rico e o que é de pobre, onde a cuica aparece ligada à pobreza, evidentemente representa uma série questões econômicas e sociais, o que não cabe agora aprofundar. Mas vale refletir sobre o quanto os cuiqueiros pioneiros sofreram discriminação para firmar a cuica no cenário artístico nacional, a ponto de poder desfrutar a situação de maior aceitação em que a cuica se encontra hoje. Embora ainda exista discriminação.
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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dia Nacional da Cuíca [21 de abril]

Hoje é o "Dia Nacional da Cuíca", uma data que apesar de ser extra-oficial, é reconhecida e celebrada pelos cuiqueiros e cuiqueiras de todo o Brasil. Inclusive, hoje, no Rio de Janeiro, haverá uma festa na quadra da escola de samba União de Jacarepaguá, à partir das 13:00 horas.

E para não deixar essa data tão especial passar em branco por aqui, selecionei um samba de Haroldo Lobo e Wilson Baptista intitulado Como se faz uma cuíca, que é um verdadeiro documento histórico do nosso instrumento. Lançada em 1944 pelo conjunto vocal Anjos do Inferno, essa é uma das poucas composições cuja temática é especificamente dedicada à cuícaO título é instigante por si só, mas ao longo da letra é que a preciosidade deste belo samba fica de fato evidente.


COMO SE FAZ UMA CUÍCA
(Horoldo Lobo e Wilson Batista)

Um pedaço de pau
Um pedaço de couro numa barrica
É assim que se faz um cuíca

Depois de tudo acabado
Vem outra observação
Arranje um pano molhado
Pra fazer a marcação

Venham ver como é que o samba fica
O piano é de nobre
E o instrumento de pobre é a cuíca

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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Água de cuíca

Hoje é 1º de abril, dia da mentira, e para celebrar essa data tão especial nada melhor do que falar sobre a famosa “água de cuíca”.


Reza a lenda que antigamente, quando um cuiqueiro tinha a oportunidade de viajar para outro país, sabendo que provavelmente algum gringo desejaria comprar sua cuíca, ele levava na bagagem uma ou mais cuícas extras, justamente para serem vendidas. A questão é que durante a negociação da venda o cuiqueiro utilizava uma estratégia bastante arriscada, mas que funcionava direitinho. Conheci essa história mais ou menos assim...

O gringo, impressionado com a performance do cuiqueiro, se dirigia a ele mostrando interesse em comprar aquele instrumento tão interessante, perguntando por quanto o cuiqueiro lhe venderia. O cuiqueiro dizia então um valor bem baixo, como uns 20 dólares ou algo assim. O gringo ficava entusiasmado em adquirir a cuíca pagando tão pouco e comprava imediatamente. Mas em seguida, questionava: ok, mas como faz pra tocar? Nessa hora o cuiqueiro tirava a carta da manga, dizendo o seguinte: bom, pra tocar cuíca você precisa do pano e da água. Essa água serve para molhar o pano e sem ela é impossível tocar! O gringo ficava ainda mais fascinado e perguntava ao cuiqueiro onde conseguir o pano e a água. Com toda sua malandragem, o cuiqueiro emendava: olha my friend, essa água é a “água de cuica”... uma água especial e essa aqui é das boas! Se quiser, te vendo o pano e uma garrafinha da água por apenas mais 500 dólares. Surpreso e não muito contente com essa novidade, mas sem encontrar outra saída por já ter comprado o instrumento, o gringo se via obrigado a pagar esse valor tão mais alto e o cuiqueiro voltava pro Brasil feliz da vida.
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quinta-feira, 31 de março de 2011

Vídeo 6 - A Rainha e a Cuíca (curta-metragem)

Durante uma visita ao Brasil, a rainha da Inglaterra é levada a um ensaio da Portela pelo então presidente Juscelino kubitschek. Hipnotizada pelos sons da cuíca de Bigode, um célebre cuiqueiro da agremiação, a majestade se vê fortemente atraída pelo ritmista, que corresponde ao flerte e convida a nobre visitante para um rolê na Lapa. Entretanto, a fugidinha da rainha é tida como um sequestro pelas autoridades britânicas, levando o Brasil à uma grave crise diplomática. O governo é deposto e os militares tomam o poder, instaurando uma ditadura no país. As investigações do suposto sequestro apontam Bigode como principal suspeito e inicia-se uma grande operação de resgate. O cativeiro é localizado e Bigode vai preso, sendo levado a responder por seu crime na Inglaterra, onde faz um discurso de defesa que surpreende o mundo (curta-metragem de ficção produzido com imagens de arquivo da extinta TV Tupi).



Direção e Roteiro: Felippe Mussel
Montagem: Moisés Zylberberg
Desenho Sonoro: Fabrício Batista, Bruno Mello Conceito e Joana Luz
Edição de Som: Felippe Mussel
Diálogos e Dublagens: Bruno Mello Conceito, Fabrício Batista, Joana Luz, Felippe Mussel, Tchelo Mello, Carolina Fortuna, Leo Rivera e Miquinou

quinta-feira, 24 de março de 2011

3º Encontro de cuícas e desfilantes

Realização: Alex Fabiano, Rodrigo Canavarro e Quirininho.

Atenção cuiqueiros e cuiqueiras do Rio de Janeiro! No próximo sábado (26), será realizado o 3º Encontro de cuícas e desfilantes. Trata-se de uma confraternização entre os cuiqueiros, seus familiares e amigos que desfilam em alas diversas das escolas de samba. A entrada é gratuita, mas como o evento não conta com nenhum tipo de patrocínio, a organização pede que cada pessoa leve 1 Kg de carne e bebida à escolha, além da cuíca, é claro! 

A festa promete muita descontração e batucada para o ecoar das "choronas", mas também nos dará a oportunidade de discutir projetos relevantes para a perpetuação da nossa arte, como a criação do troféu Cuíca de Ouro, que consiste numa premiação para o naipe de cuíca que mais se destacar em cada carnaval. No sábado a gente aprofunda este assunto. Até lá!

Início: 13 horas
Endereço: Rua Brigadeiro Dellamare, nº. 302 - Marechal Hermes
(próximo ao hospital Carlos Chagas)
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terça-feira, 8 de março de 2011

O cuiqueiro e a passista

Se existe uma coisa que todo cuiqueiro gosta é de ser filmado ou fotografado tocando para uma passista da sua escola de samba. Cena obrigatória no roteiro de qualquer filme sobre o carnaval brasileiro, a imagem dessa dupla já faz parte do imaginário coletivo e tem uma representação bastante significativa no universo do samba.

Alguns cuiqueiros e passistas formaram duplas que encantaram plateias mundo afora, como o “Casal 20”, formado por Índio da Cuíca e sua esposa Shirley, e a dupla “Caqui”, da passista Cátia com o saudoso Quirino Lopes. 

De modo geral, os registros dessas duplas sempre mostram os cuiqueiros sorrindo ou fazendo caretas, de modo a expressar a irreverência sonora da cuíca embalando as performances hipnóticas das passistas. Mas apesar de toda graça e beleza, há questões bastante delicadas por trás desse imaginário .

A foto abaixo, por exemplo, originalmente publicada na capa de uma edição do jornal Olé, um importante periódico esportivo da impressa argentina, nos permite problematizar este assunto.

Jornal Olé (junho de 2006)

Publicada durante a copa do mundo de 2006, realizada na Alemanha, esta fotografia é uma clara referência ao imaginário clichê que apela aos elementos de sua composição como símbolos nacionais do Brasil de maneira jocosa e pejorativa. 

A frase "o mais grande do mundo" se refere objetivamente à seleção brasileira, pentacampeã naquela ocasião, mas é também uma analogia maliciosa ao corpo feminino em primeiro plano. Um exemplo típico do assédio que as passistas lamentavelmente são obrigadas a enfrentar, muitas vezes estimulado pelo racismo.

A expressão do cuiqueiro – o mangueirense Dom Gravata – também é digna de reflexão. Apesar de toda simpatia e comicidade individual, esse tipo de expressividade também legitima um estereótipo muitas vezes abordado de maneira “folclórica” e depreciativa, que reduz os cuiqueiros e, consequentemente, todo o patrimônio cultural da cuíca à simples figura de um sujeito engraçado. 

Alegria e irreverência são características dos cuiqueiros tão inerentes quanto a sensualidade das passistas. Mas a riqueza dessas personagens, sobretudo quando se apresentam em dupla, é de tamanha força e beleza que não pode ser diminuída por nenhum preconceito ou visão superficial. Fato, infelizmente, ainda real, que este humilde espaço cuiquístico tem por missão denunciar e combater.
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*atualizado em 10/03/2022

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cuiqueiros de Floripa

Essa matéria saiu no Blog TAMBORIM, de Ângela Bastos, no dia 16 deste mês. Mostrando que em Florianópolis a cuica também chora bonito! 

A cuica vai roncar...


A cuica vai roncar na festa do Berbigão do Boca, dia 25, no Centro de Florianópolis. Afinal, serão 50 cuiqueiros das cinco escolas de samba formando uma das maiores alas de cuica que se tem ideia.
Dú, mestre da bateria da Unidos da Coloninha, está animado. Tocador apaixonado e professor, ele aproveitou um jantar oferecido por Nivaldinho Machado, agora à noite, para conversar um pouco sobre a importância do exótico instrumento para o samba. Papo vai e papo vem, foi sugerido para após o Carnaval um encontro com a vinda de convidados para uma grande roda. Dú estima que cada uma das cinco escolas desfilem com cerca de 10 cuicas na Nego Quirido.
Pelo que deu para perceber o grupo está disposto a montar uma confraria, como já ocorre em outros lugares.
Democrático
Ver os cuiqueros conversar é um aprendizado. A cuica é um instrumento parecido com um tambor. Pode ser tocada por qualquer pessoa, independente do sexo, seja adulto ou criança. Por isso, democrático. Por dentro, existe uma haste de madeira presa bem no centro da membrana de couro. O som é obtido friccionando a haste com um pedaço de tecido molhado (antes usavam querosene) e pressionando a parte externa com dedo, produzindo um ronco característico. Quanto mais perto do centro da cuica, mais agudo será o som produzido.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Música 6 - Cuícas Loucas

Cuícas Loucas é décima faixa do disco Batucada Fantástica Volume 3 - Luciano Perrone e seus Ritmistas Brasileiros, lançado pelo selo Musidisc em 1972. Trata-se de um "duelo" cuiquístico entre Mestre MarçalMinistrinho, sob uma esplêndida base rítmica conduzida pela bateria de Luciano Perrone.

O "duelo" entre as cuícas se inicia com as duas soando juntas, mas logo Marçal segue sozinho até o momento em que o cronômetro ultrapassa o primeiro minuto, quando então dá a vez a Ministrinho, que prossegue durante todo o restante da música, inclusive na "gargalhada" irretocável que se escuta no final, depois de um breve reencontro com o Marçal alguns segundos antes.

Ambos são viscerais, mas a diferença de estilo entre eles é nítida. Mestre Marçal transborda elegância numa sonoridade polida, em conduções espaçadas e fraseados cheios de suingue. Já Ministrinho apresenta uma estética "suja" (mas não menos deslumbrante), extremamente irreverente e também marcada por muito suingue. Resumindo: Cuícas Loucas é uma obra prima!

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A cuíca no jazz

Hoje em dia, talvez em função do alcance internacional que a televisão deu ao carnaval brasileiro, é difícil encontrar algum país que não tenha pelo menos uma escola de samba. O enorme sucesso da bossa-nova também contribuiu bastante para que o samba se tornasse um gênero musical globalizado. Assim, não demorou muito para que os seus instrumentos típicos, como a cuíca, passassem a ser utilizados em outros contextos musicais, como no universo jazzístico.


A imagem acima consiste na capa do livro JAZZ – History, Instruments, Musicians, Recordings, de John Fordham, publicado em 1993, onde constam algumas páginas dedicadas a instrumentos sul-americanos, caribenhos, asiáticos e africanos, introduzidos no jazz como resultado da busca por novas sonoridades. O músico que faz a apresentação de tais instrumentos é Naná Vasconcelos – abaixo, à esquerda – pernambucano com vaga cativa entre os maiores percussionistas do mundo e de toda a história da música.


Ampliada na imagem à direita, o livro apresenta a imagem de um modelo de cuíca não muito comum atualmente, com apenas cinco tirantes (parafusos de afinação), trazendo também a seguinte descrição do instrumento: A cuíca é um tambor de fricção brasileiro. Há uma vareta anexada dentro da pele, que o instrumentista esfrega com um pano umedecido, aplicando pressão sobre a pele, criando um gemido vocalizado bastante característico.

É interessante notar que a cuíca está relacionada entre os instrumentos de percussão, mas é descrita como um "tambor de fricção", o que de certa forma corresponde ao debate iniciado na postagem "Cuíca é percussão?". Outro ponto interessante é a definição do som do instrumento como um "gemido vocalizado".

A presença da cuíca no universo do jazz também pode ser constatada através do exemplo compartilhado no player abaixo, um latin-jazz intitulado de Brazilian Sugar gravado em disco do percussionista novaiorquino Steven Kroon, que vemos na imagem. Tive a honra de conhecê-lo no ano passado, em Manaus, durante o 5º Festival Amazonas Jazz, e fiquei surpreso ao vê-lo tocar cuíca naquela ocasião, durante o show em que acompanhou a cantora Carla Cook. Em Brazilian Sugar, sua cuíca pode ser notada a partir dos 4min40seg, aproximadamente.


Outro registro onde a cuíca bate uma bola com o jazz é Rocking with Mocotó, obra instrumental gravada no disco Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó, produzido em 1974, porém, lançado somente 35 anos depois, em 2009, pelo selo Biscoito Fino. O disco celebra o encontro entre o trompetista Dizzy Gillespie, um dos maiores nomes da história do jazz, e o Trio Mocotó, que à época contava com um dos maiores virtuoses da história da cuíca, Fritz Escovão. Dizzy e Fritz estabelecem um diálogo brilhante entre o trompete e a cuíca.


Para finalizar, o registro de uma orquestra comandada por Quincy Jones interpretando a música Soul Bossa Nova, de sua autoria, num famoso programa de TV norte-americano. O cuiqueiro que aparece nas imagens é o paulista Edson Aparecido da Silva, conhecido como Café, residente há muitos anos nos Estados Unidos, onde construiu uma bela carreira baseada no intercâmbio entre o jazz e a percussão brasileira.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Confraria da Cuíca de Porto Alegre

No sábado passado, o Diário Gaúcho publicou uma matéria sobre a Confraria da Cuíca de Porto Alegre, reproduzida integralmente abaixo.


Eles fazem a cuíca roncar na avenida

Luiz Armando Vaz
luiz.vaz@diariogaucho.com.br

Criada há quatro anos, a Confraria da Cuíca conta com experientes músicos que, neste ano, darão um molho especial à bateria da Estado Maior da Restinga.

Em Porto Alegre, tem um grupo de músicos que se reúne regularmente para trocar ideias e comentar novidades sobre os sons de um dos instrumentos mais exóticos que existem: a cuíca. É a Confraria dos Cuiqueiros.

Fisicamente, a confraria existe há quatro anos. Porém, integrantes do grupo já se comunicavam virtualmente pela internet. Os primeiros encontros ocorrem nas bandas Itinerante e da Saldanha. Mas, agora, é na escola de samba Estado Maior da Restinga que os cuiqueiros estão se reunindo.

- Agilidade nas mãos

O organizador, Sérgio Barboza, herdou o gosto pelo instrumento do pai, Miro da Cuíca, de Santa Maria. Em Porto Alegre há muitos anos, Sérgio agora é um dos responsáveis pelo naipe de cuícas da Tinga.

O grupo está feliz da vida, pois recebeu do diretor de bateria da Restinga, José Augusto da Silva, o Mestre Guto, a promessa de que irá dobrar, neste ano, o número de cuiqueiros. No Carnaval passado, foram 14.

Fazem parte da confraria algumas figuras de destaque no Carnaval. Uma delas é Jandir Soares, o Biriba, 72 anos, que está há mais de 20 anos na escola, juntamente com seu irmão, Jair Soares, o Caolho da Cuíca, que aprendeu no Rio de Janeiro os segredos do instrumento.

– A cuíca é um instrumento fácil – garante Biriba. Ele diz ainda que a única coisa indispensável é ter agilidade nas mãos.

- Desfilam por até dez escolas

Alguns dos integrantes da Confraria da Cuíca desfilaram por dez escolas no Carnaval do ano passado. Garantem que só não desfilam em mais porque não dá tempo.

Na Muamba Oficial, quando não há exigência de fantasia, porém, desfilam junto com as baterias de todas as agremiações.

Na confraria, há, inclusive, um caso de paixão. Marquinhos e Karla são casados há seis anos. Ele é diretor de bateria da escola Samba Puro. Ela, é dona de casa. É uma união que tem na cuíca um amuleto do amor, garantem os dois.

- O que é

A cuíca é um instrumento semelhante a um tambor, com uma haste de madeira presa no centro da membrana de couro, pelo lado interno. O som é obtido friccionando a haste com um pedaço de tecido molhado e pressionando a parte externa com dedo, produzindo um ronco característico. Quanto mais perto do centro da cuíca, mais agudo será o som produzido.

- Chegou a hora dos ensaios técnicos

Começam neste domingo os ensaios técnicos do Grupo Especial de Porto Alegre, no Sambódromo. Serão quatro escolas que desfilarão a partir das 20h. Pela ordem: Academia de Samba Puro, Praiana, Império do Sol e Acadêmicos de Gravataí. Os ensaios vão até o dia 20, sempre aos domingos. No domingo passado, foi realizada a muamba das cinco escolas do Grupo Intermediário A.

- Folia nas ondas do rádio

A partir deste final de semana, o Carnaval ganha mais espaço na Rádio Gaúcha (AM 600 e FM 93.7). A agitação começa já no programa Gaúcha no Carnaval, que começará às 22h e irá até as 3h de domingo, com apresentação de Odir Ferreira.

No domingo, com Cláudio Brito no comando, a atração vai da meia-noite às 5h da segunda-feira, trazendo todas as novidades sobre a folia.

PENSAMENTOS
- A volta da cuíca é um resgate importante no Carnaval.
- O naipe de cuícas é a comissão de frente das baterias.
- É um instrumento muito pessoal: quem tem, não empresta a ninguém.
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*atualizado em 10/03/2022

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Exposição - Zeca, 60 anos de cuíca

A exposição Zeca, 60 anos de cuíca é uma bela e merecida homenagem a um nossos grandes mestres, Zeca da Cuíca. A organização do evento é do núcleo de cultura da Comlurb, instituição para a qual o seu Zeca dedicou muitos anos de serviço, até a sua aposentadoria.


ZECA: 60 ANOS DE CUICA - A mostra reúne imagens fotográficas da carreira e da vida de José de Oliveira, o Zeca da Cuíca, funcionário da Comlurb que acompanhou grandes nomes da música popular brasileira. O espaço contará também com a transmissão de imagens e entrevistas, um estande interativo para o público tocar cuíca, além da exposição de troféus e medalhas do instrumentista. Na noite de abertura, Zeca se apresentará numa animada roda de samba. Aos 75 anos, ele é ainda um músico atuante, participa de shows, gravações e é integrante da Velha Guarda da Escola de Samba Estácio de Sá, embora tenha também como escola do coração a Acadêmicos do Salgueiro, pela qual ganhou o Estandarte de Ouro. Fonte: Jornal do Brasil - 31/01/2011

Serviço: Galpão das Artes Urbanas Helio G. Pellegrino, Rua Padre Leonel Franca s/n, Gávea - Rio de Janeiro (2249-2286). 2ª a 6ª, das 10h às 17h. Grátis. A partir de 4 de fevereiro, até 31 de março de 2011.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Música 5 - Triste Cuíca

Triste Cuíca é uma linda composição de Noel Rosa em parceria com Hervé Cordovil, originalmente gravada por Aracy de Almeida, em 1935, com o acompanhamento do Regional de Benedito Lacerda.


O próprio título desta canção fala de uma das características mais marcantes da cuíca, sua capacidade de nos remeter ao sentimento de tristeza, de lamento, através da sua sonoridade.

Mas há outra questão interessante neste samba, especificamente no verso "parecia um boi mugindo...". Trata-se de uma clara referência ao padrão de afinação que as cuícas possuíam no passado, quando soavam numa faixa de frequências bem mais grave do que o padrão de afinação atual. É uma pena que a gravação original não tenha uma cuíca em sua instrumentação para provar a pertinência da comparação entre a sonoridade da chorona com o som de um boi mugindo. Porém, em 1966, Aracy de Almeida regravou Triste Cuíca e, desta vez, contando com a impecável cuíca de Mestre Marçal, já com o instrumento em sua sonoridade moderna.



Triste Cuíca
(Hervé Cordovil e Noel Rosa)

Parecia um boi mugindo
Aquela triste cuica
Tocada pelo Laurindo
O gostoso da Zizica

Ele não deu à Zizica
A menor satisfação
E foi guardar a cuica
Na casa da Conceição

Diferente o samba fica
Sem ter a triste cuica
Que gemia feito um boi

A Zizica está sorrindo
Esconderam o Laurindo
Mas não se sabe onde foi

A Zizica está sorrindo
Esconderam o Laurindo
Mas não se sabe onde foi
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Cuiqueiros 1 - Boca de Ouro

Nas comunidades e grupos das redes sociais pautadas na cuíca é comum encontrar comentários sobre cuiqueiros como o Mestre MarçalOvídio BritoZeca da Cuíca, Fritz Escovão, Osvaldinho, Carlinhos, enfim, sobre algum cuiqueiro famoso. Acontece que existem outros nomes além destes que, apesar de também serem muito importantes, não são tão comentados. E nas conversas que tive com cuiqueiros experientes, como o Zeca e o Osvaldinho, e também com sambistas da antiga como o Monarco, eles sempre apontam um nome como o principal cuiqueiro do passado: Boca de Ouro - um nordestino radicado no Rio de Janeiro, mas que também viveu em São Paulo por alguns anos, e fez parte da elite musical brasileira. Não consegui descobrir o seu nome de batismo e nem a data de nascimento, mas provavelmente foi entre as décadas de 1910 e 1920.

Boca de Ouro (em 1959)

Parece que ele foi mesmo o grande cuiqueiro de seu tempo, tendo gravado em discos de nomes como Carmen Miranda, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, entre outros, acompanhado esses artistas também em shows por toda parte. Mas um dos trabalhos mais importantes que ele participou certamente foi o disco Batucada Fantástica – Os Ritmistas Brasileiros, gravado em 1964 sob direção do baterista Luciano Perrone. Lançado pelo selo Musidisc, esse disco recebeu vários prêmios e se tornou mundialmente conhecido. Logo na primeira faixa, intitulada "Samba Quente", disponível no player abaixo, podemos ter uma noção de que o Boca de Ouro foi mesmo um cuiqueiro fenomenal.


Encontrei no site do Instituto Moreira Sales outras duas músicas cujas fichas técnicas o referenciam como "Boca Rei da Cuíca", tamanha sua importância para o instrumento. Ambas as músicas foram gravadas em 1948 pelo grupo Vocalistas Tropicais. A qualidade do áudio não é muito boa, mas prestando bem atenção dá para ouvir a cuíca no acompanhamento.   




Como é que vai ser? (Marino Pinto e Mário Rossi)


Além dos inúmeros registros fonográficos, Boca também atuou em alguns filmes, como neste trecho da comédia musical "Quem roubou meu samba?", de 1959, acessível AQUI em sua versão completa.


Sobre a sua morte, parece que ele foi assassinado no Rio de Janeiro em meados da década de 1970, deixando como legado um estilo cuiquístico excepcional. Se hoje podemos tocar e apreciar a cuíca em baterias, rodas de samba, shows e discos, devemos isto a figuras como Boca de Ouro.
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vídeo 5 - Índio da Cuíca

Vejam só que feliz coincidência! Hoje fui à loja da Art Celsior e na volta para casa, enquanto esperava o trem chegar na estação de Cordovil, outro trem parou no sentido oposto e vi descer do vagão um sujeito que suspeitei ser o Índio da Cuíca. Num impulso, gritei seu nome. Ele se virou, olhou desconfiado, mas veio falar comigo. Eu me apresentei, disse que era seu fã e que também sou cuiqueiro. Conversamos ali por uns quinze minutos até o meu trem chegar. Fiquei muito feliz por tê-lo conhecido! Que camarada gente boa! E toca uma cuíca muito esperta! O Índio é um dos poucos cuiqueiros que têm a habilidade de solar melodias na cuíca, como se vê nesta apresentação, em 1997, onde sola trechos do choro Brasileirinho, do samba popularmente conhecido como Pega no Ganzê, e da marcha Cidade Maravilhosa.


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domingo, 26 de dezembro de 2010

Homenagem a Ovídio Brito

Essa é a última postagem de 2010 e é especial por ser em homenagem ao já saudoso Ovídio Brito. Amigos e familiares sentem a dor de sua perda e nós, seus fãs, sentiremos a falta de sua arte. Fica o nosso respeito e agradecimento a este grande cuiqueiro. 

Selecionei dois textos que ilustram muito bem o quanto Ovídio nos fará falta. Um deles está neste link do blog do Cláudio Jorge, para quem não o conhece, um compositor de mão cheia e muito amigo do Ovídio. O outro texto achei no blog do Pim, muito bacana também.

Também tive a grata oportunidade de conhecer o Ovídio e uma vez pude tocar ao seu lado. Aproveitei para fazer algumas perguntas sobre cuica e observá-lo tocando. Fiquei muito impressionado! Primeiro, pelo lindo som de sua cuica. Segundo, porque ele estava tocando com pano de chão. E terceiro, pela facilidade que ele tinha em tocar cuica e cantar ao mesmo tempo, fazendo as duas coisas maravilhosamente bem. 

Inclusive, me surpreendi ao ver que além de tocar, ele também era um excelente cantor. Naquela época ele estava prestes a gravar seu primeiro e único disco solo cantando, cujo título é Viajando com Martinho, por conter exclusivamente composições do Martinho da Vila no repertório.

A última faixa é uma versão instrumental da canção Pensando Bem. Uma ideia do próprio Ovídio em acompanhar a bela melodia dessa música com o lamento de sua cuica. João de Aquino, coautor da música, fez o arranjo e seu filho Gabriel de Aquino executou o solo no violão. Nessa faixa, o Ovídio também contou com a participação especial do Índio da Cuica, Quirininho, Neném da Cuica, do Tuca e do Zeca da Cuica, que se unem ao anfitrião durante a música. Um belo encontro de cuicas!



Segue também um vídeo com imagens da roda de samba do Ovídio e de seu parceiro Márcio Vanderley, contanto ainda com a ilustre presença de Arlindo Cruz. Essas imagens foram registradas algumas horas antes do fatídico acidente que tirou o Ovídio do nosso convívio. Vejam como ele estava feliz!



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domingo, 19 de dezembro de 2010

Música 4 - Cuica no Samba de Uma Nota Só

Essa música faz parte do disco "Mestre André e sua Bateria", gravado em 1977, tempos de glória da Mocidade Independente de Padre Miguel. Não sei o nome do cuiqueiro que fez esse registro, mas ele faz progressões e floreios muito bacanas, além de solar um trecho de um dos maiores clássicos da bossa nova: Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim e Newton Mendonça. Boa audição!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A pele

A pele utilizada na cuica é de origem animal, preferencialmente de cabrito, e é num local chamado curtume onde o couro do animal é tratado para que fique em condições de ser utilizado em diversas finalidades, inclusive para tocar cuica. Primeiro, o cabrito é abatido, a pele é extraída e os pelos são raspados. Em seguida, há o processo de curtimento com alguns produtos químicos para evitar que a pele apodreça. Feito isso, está pronta para empachar e usar no instrumento.

Matéria prima
A qualidade da pele influencia muito no som da cuica. Pele grossa, pele fina, pele com ruga, pele lisa, enfim, são nuances que cada cuiqueiro avalia para encontrar o padrão que mais lhe agrada. Já ouvi dizer que até a idade do cabrito influencia na sonoridade da pele, sendo, a dos mais velhos, melhor do que a dos cabritos abatidos ainda quando jovens.

O vídeo da última postagem começa com o rapaz pressionando o centro da pele com a ponta de uma baqueta, marcando o ponto exato onde ele depois faria a amarração do gambito. Porém, é necessário molhar a pele antes desse procedimento. A pele é muito dura em seu estado natural e para empachá-la é imprescindível que esteja amolecida. Para isso, costuma-se deixar de molho por alguns minutos, dentro de um balde cheio d’água ou algum recipiente parecido.

Quando encharcada, a pele fica muito parecida com uma massa de pizza. Essa analogia é um pouco estranha, mas no vídeo da postagem anterior é possível ver que é assim mesmo que ela fica. Depois de molhada e bem amolecida, deve-se amarrar o gambito no centro da pele e, finalmente, empachá-la no arquilho, que é um arco geralmente de madeira onde fixamos a beirada da pele, como vimos ser feito no vídeo citado.

O próximo passo é esperar que a pele fique seca. Dependendo do clima isso pode levar um ou dois dias. Mas atenção, a pele deve secar na sombra, nunca ao sol. Em seguida, com a pele totalmente seca, é só encaixar na cuica, afinar e está pronta para uso. É importante evitar o contato novamente com água depois que a pele estiver instalada na cuica. Um problema muito comum é esbarrar o pano na pele enquanto se está tocando. Sem que se perceba, aos poucos o pano umedecido vai molhando a região envolta do gambito e a pele acaba se rasgando. Para evitar que isso aconteça é recomendável colocar um pedaço de plástico ou de fita adesiva na pele, por dentro da cuica, protegendo toda a circunferência próxima ao gambito.

Nos desfiles das escolas de samba ou nos ensaios que as agremiações costumam fazer a céu aberto antes do carnaval, os cuiqueiros cobrem a pele da cuica quando chove com uma touca de banho, daquelas de plástico que usamos para não molhar o cabelo. Existem experiências bem sucedidas com pele de náilon para cuica, mas há quem diga que o resultado sonoro não é tão bom quanto o da pele de couro. No entanto, o náilon tem a vantagem de não sofrer nenhuma alteração física em contato com água, sendo, portanto, uma boa alternativa para essas situações em que esteja chovendo.

Mas a pele de couro animal é mesmo a de uso mais comum entre a maioria dos cuiqueiros. É bastante resistente, embora necessite de alguns cuidados e manutenção, podendo durar bastante tempo sem rasgar. Sobre essa questão da durabilidade da pele, outra orientação é para nunca guardar a cuica com a pele esticada, quer dizer, deve-se afrouxar a pele toda vez depois de tocar.

Encontrar pele de cuica pra comprar não é tão difícil, principalmente pra quem tem uma cuica da Gope ou da Contemporânea, por exemplo. Como essas marcas têm produção em escala industrial, é fácil encontrar a pele já pronta em lojas de instrumentos musicais. Em São Paulo, situadas à rua General Osório, ficam as lojas dessas duas marcas mencionadas, uma bem próxima da outra. E do outro lado dessa mesma rua fica a loja da Redenção, também de artigos musicais. 

No Rio de Janeiro, há várias lojas na rua da Carioca e também a fábrica da famosa marca Art Celsior, no bairro de Cordovil. E para quem mora em outras regiões fora do Rio de Janeiro ou de São Paulo, acredito que dê pra comprar pelos sites dessas lojas, ou procurar na sua cidade alguma loja de instrumentos musicais que venda ou possa encomendar pele de cuica com algum fabricante. Essas dicas servem tanto pra quem quer comprar a pele já empachada, quanto para quem procura o couro, o gambito, o arquilho, enfim, cada item separadamente para empachar a própria pele. Quanto à linha encerada, tipo de corda ideal para amarrar o gambito na pele, pode ser facilmente encontrada em armarinhos ou lojas de produtos para artesanato.

Mas, independentemente das especificações que vão do gosto pessoal de cada cuiqueiro, assim como a variação de marcas disponíveis nas lojas de música, o fato é que a pele é um item da cuica sobre o qual devemos conhecer muito bem. Fazer testes com diferentes tipos de pele, oriundas de curtumes diferentes, preparadas para diferentes fins, por exemplo: para desfilar no carnaval é conveniente utilizar uma pele mais grossa, que suporte uma afinação mais aguda. Já para gravação em estúdio, uma pele fina pode atender bem às expectativas. E por aí vai, de acordo com a curiosidade e disposição de cada cuiqueiro em querer dominar esse instrumento tão melindroso chamado cuica.

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domingo, 5 de dezembro de 2010

Vídeo 4 - Empachando uma pele de cuica

O vídeo dessa postagem é uma edição de dois outros vídeos encontrados no YouTube, cujas fontes estão relacionas mais abaixo. Ele traz imagens de um rapaz empachando uma pele de cuica. Ao assisti-lo, algumas pessoas poderão até pensar que empachar uma pele é algo relativamente fácil, mas não é bem assim. Na realidade, trata-se de um procedimento que exige muita prática para que fique bem feito.

Devido à qualidade um pouco precária desse registro, alguns detalhes essenciais do processo não estão muito evidentes, por exemplo: como se dá o famoso "nó de porco" para amarrar o gambito no couro; com que tipo de ferramenta o couro é envolvido no arquilho, que é aquele arco de madeira ou alumínio onde o couro é empachado; dentre outras questões que somente a prática nos revela. Mas, mesmo assim, é possível ter uma noção do processo como um todo e do quanto pode ser trabalhoso.

A trilha sonora é uma composição do nosso grande mestre Osvaldinho da Cuica, por sinal, muito apropriada para a ocasião. O título é “A Cuica do Maninho” que, segundo o próprio Osvaldinho, foi inspirada numa situação que realmente aconteceu com ele. Vale ressaltar os seguintes versos: você bem sabe que instrumento não se empresta, se ele quebra acaba a festa e eu vi muita festa acabar; agora, vê se fica mais esperto quando algum curioso por perto quiser na cuica tocar. Sugiro a leitura da postagem “Me empresta a sua cuica?” para complementar essas ideias.


*Fontes para edição do vídeo: How to lap a cuica head / How to lap a cuica skin part 2
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domingo, 28 de novembro de 2010

Vídeo 3 - A cuica (Documentário de 1978)

O vídeo dessa postagem é um documentário chamado "A Cuica – Instrumentos da Música Popular Brasileira", filmado em 1978, com direção de Sérgio Muniz e produção de Thamaz Farkas. O vídeo é protagonizado pelo ilustríssimo Osvaldinho da Cuica, na ocasião com aos seus 38 anos de idade. Aparecem também ritmistas da escola de samba Mocidade Alegre da Casa Verde em algumas cenas, dentre eles, um cuiqueiro chamado Alaor, ao lado do Osvaldinho. Registros preciosos!



*este vídeo foi uma indicação do amigo Thiago F. Obrigado Thiago!
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ovídio Brito (1945 - 2010)


Ovídio Moreira Brito

A cuica hoje chora de saudade. Ovídio Brito, grande músico e acima de tudo um autêntico sambista, cumpriu o seu papel e partiu para encontrar outros bambas no céu. Sem dúvidas, foi um dos maiores cuiqueiros da história e certamente o principal em atividade até então. Ovídio participou de inúmeras gravações em discos dos principais nomes da música brasileira, tocando diversos instrumento de percussão, mas a cuica era a sua marca maior. Há dois anos gravou seu próprio disco, desta vez como cantor. Ficam os registros e a memória deste cuiqueiro que tocava com tanta alegria e ainda tinha tanto a nos ensinar.



P.s.: Dia 22 de novembro, dia do músico.
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domingo, 21 de novembro de 2010

Me empresta a sua cuica?

Se existe um momento desagradável na vida de qualquer cuiqueiro, ou pelo menos para a maioria, é quando alguém pede para tocar “um pouquinho” a sua cuica. Pior ainda se quem faz pedido é uma pessoa desconhecida. Confesso que já cometi o erro de pedir cuica emprestada uma vez, mas foi a primeira e última. Depois de ter feito o indecoroso pedido ao cuiqueiro, fui indagado por ele se eu sabia mesmo tocar cuica. Eu disse que sim e ele imediatamente retrucou com a seguinte frase: então você devia saber que cuica não se empresta! Nunca mais me esqueci dessa lição e passei a utilizar essa tática pra me livrar dos pedintes “sem cuica” que às vezes me aparecem.

O que justifica esse dilema a respeito de deixar ou não alguém tocar a sua cuica é o fato de que a relação entre um cuiqueiro e o seu instrumento é de pura intimidade. Algumas coisas na cuica são muito delicadas e exigem um cuidado especial por parte de quem a manuseia. São detalhes que, em geral, cada cuiqueiro desenvolve de uma maneira muito pessoal. Os cuiqueiros gostam até de brincar dizendo que "cuica é igual mulher, cada um cuida da sua". Nessa ótica, um relacionamento monogâmico, de fato.

E, além da maioria dos cuiqueiros não gostarem de emprestar sua cuica pra alguém, também é muito comum encontrar cuiqueiros que não tocam de jeito nenhum outra cuica que não seja a sua. Porque ele sabe que provavelmente encontrará um instrumento muito diferente do seu, preparado de acordo com as preferências do outro cuiqueiro, o que pode dificultar a execução, o impedido de extrair a sonoridade que mais lhe agrada.

Geralmente, enquanto estamos tocando e, principalmente, quando outra pessoa está tocando a nossa cuica - emprestada a contragosto, diga-se de passagem - nossa maior preocupação é com o gambito. O gambito, para quem não sabe, é aquela vareta de bambu presa no centro da pele. Por ser muito frágil, é normal que se quebre em algum momento. No entanto, por mais comum que isso seja, é sempre muito decepcionante quando acontece. Inclusive, dizem que a sensação de quebrar o gambito é pior do que broxar com a mulher amada, e quebrar o gambito da cuica alheia é pior do que broxar com a mulher dos outros. Enfim, resumindo, cuica não se deve emprestar e nem pedir emprestado.
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